segunda-feira, 30 de maio de 2011

Dez razões para um inêxito

"Face às expectativas criadas, face ao brilhantismo que a equipa, a dada altura, chegou a exibir, nada fazia prever o penoso final de época que o futebol benfiquista protagonizou, e que nos entristeceu profundamente. Importa agora reflectir sobre o que contribuiu para tão ingrato desfecho, de modo a que os escombros desta temporada não venham condicionar também a próxima. Limitado, naturalmente, àquilo que se vê de fora, passo a identificar dez aspectos passíveis de explicar este insucesso:

1) Efeitos do Mundial - O Benfica foi a equipa portuguesa mais representada em África, e isso perturbou gravemente a preparação de época, que não contou com elementos preponderantes durante o primeiro mês de trabalho. Alguns destes jogadores (Cardozo, Luisão, Maxi) demoraram a regressar ao rendimento normal, condicionando desse modo os equilíbrios colectivos.

2) Estruturação do Plantel - Tem-nos sido difícil saber conciliar os timings de mercado (ajustados às Ligas que se iniciam em Setembro), com os timings necessários à planificação de uma época vitoriosa. Ramires e Di Maria foram vendidos (e bem), mas o espaço que deixaram não estava devidamente acautelado. Salvio veio muito tarde, e só em Dezembro se afirmou como titular, quando Campeonato e Liga dos Campeões eram já causas perdidas. Gaitán também demorou a adaptar-se a uma posição da qual não trazia rotinas.

3) Optimismo excessivo - Antes de início da época, não conseguimos evitar um discurso triunfalista, que além de alimentar a motivação dos adversários, fez crescer inutilmente as expectativas, com paralelismo no posterior desencanto dos adeptos. Subvalorizando o principal rival, quando tinha de se preparar para uma guerra.

4) Más arbitragens - Não me recordo de Campeonato tão adulterado pelas arbitragens quanto este. Seria fastidioso voltar a enumerar, um a um, todos os lances que nos lesaram. Mas até na Taça (golo em fora-de-jogo), e na Europa (golo do Sp. Braga após empurrão na área), fomos prejudicados, sem que a comunicação social o tenha relevado.

5) Permeabilidade defensiva - Com o Campeonato quase perdido, e fora da Champions, a venda de David Luíz foi, naquela contexto, uma boa decisão. Mas o certo é que, daí em diante, o Benfica revelou uma fragilidade defensiva que dificilmente se coadunaria com a obtenção de títulos. As responsabilidades não se esgotam, porém, no quarteto defensivo: no meio-campo e ataque são sectores onde os golos dos adversários começam a ser construídos, e o Benfica desta época pressionou pouco, desposicionou-se muito, e defendeu globalmente mal.

6) Lesões - A praga começou com Cardozo, continuou com Ruben Amorim, terminou com Gaitán e Salvio. Em fases decisivas da temporada, o Benfica viu-se subtraído de peças chave, com efeitos iniludíveis nas exibições e nos resultados. No lado direito, a dada altura, vimo-nos sem Salvio, nem Amorim, nem mesmo Luís Filipe. Não há plantel que dê para tanto.

7) Falta de sorte - O futebol é um jogo, e, como tal, contempla uma componente aleatória que não podemos desprezar. As três bolas no poste nas meias-finais europeias, a carambola que deu o 3.º golo ao FC Porto na Taça, as oportunidades desperdiçadas nas primeiras partidas do Campeonato (2.ª parte com a Académica, 1.ª parte na Choupana), foram momentos de infelicidade capazes de dizimar campeões.

8) Quebra física - Não entendo nada de preparação física, mas na fase mais crítica da temporada saltou à vista a dificuldade de certos jogadores em aguentar o ritmo e a intensidade dos jogos. Meses antes, os mesmos atletas revelavam enorme fulgor, e mantinham uma série recorde de vitórias consecutivas, abrilhantadas com exibições de luxo. Se a quebra se deveu a factores de treino, ou apenas a factores anímicos, é questão para especialistas. Interessa sobretudo que tal não se repita, pois as épocas terminam em Maio e não em Fevereiro.

9) Fragilidade anímica - A luta inglória por um Campeonato perdido acabou por minar a confiança dos atletas, e os efeitos notaram-se na Liga Europa e na Taça de Portugal. Nos momentos de decisão, esperava-se outro estofo mental da equipa, que não viria a conseguir libertar-se das suas angústias. Alguns adeptos também não ajudaram, pois quando se exigia apoio, responderam com mais pressão, com assobios, e até tentativas de agressão.

10) Super-FC Porto - Por muitas voltas que dêmos ao texto, a razão principal para não termos sido campeões, para não conquistarmos a Supertaça, e para não chegarmos à final da Taça, foi a soberba temporada que o FC Porto realizou. Omitir esta realidade seria esconder a cabeça na areia. Eles foram melhores, e ali, entre muitos aspectos negativos que conhecemos, há também muita coisa que podemos aprender. Desde logo que o futebol, antes de ser uma arte, é um desporto, onde os mais fortes, mais atléticos e mais vigorosos normalmente vencem."


Luís Fialho, in O Benfica

Sentinelas vermelhas

"A temporada terminou com sinais de angústia. Esperava-se mais do Benfica, depois de quase uma vintena de triunfos consecutivos. A Taça da Liga, ganha de forma imaculada, não serviria de paliativo, quando as expectativas eram legítimas noutras provas de maior dimensão.

O que se passou com a equipa? É de presumir que o diagnóstico está feito. Nesse sentido se têm pronunciado Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus. Importa que os erros cometidos não se repitam, antes que sirvam para corrigir deficiências. Ainda assim, com tantas contrariedades (e abusos anti-benfiquistas), o conjunto deu uma resposta positiva até ao mês de Abril, altura em que claudicou.

A próxima época há muito que está a ser trabalhada. Quanto vai valer? Bem mais do que uma temporada normal. E qual o motivo? Destituído de Campeão, o Benfica tem de ser reabilitar, para mais depois do principal opositor ter sido intérprete, porventura, do seu melhor ano competitivo de sempre.

A tarefa apresenta-se árdua, a luta vai ser titânica. Não há laxismo possível. As sentinelas vermelhas terão que funcionar em pleno. É aos adeptos, à poderosa falange rubra que se exige apoio e vigilância apertada. O Benfica, na próxima época, não pode voltar a ser vítima de tantos apitos... de azul. O Benfica, na próxima época, só pode voltar a ter a afeição incondicional da massa apoiante.

O início da temporada vai ser decisivo, até depois do que sucedeu no último ano. Arrancar bem não é condicionante, é mesmo determinante. Ter consciência disso é fundamental e só pode servir para reforçar a união dos benfiquistas.

Tem de haver mais Benfica para haver melhor Benfica."


João Malheiro, in O Benfica

Considerações (Cavalo Velho)

"Não tive a felicidade de me legarem o amor que nutro pelo SLB, mas há uma coisa importante a reter. Cada pessoa é uma pessoa. E, perante factos, ou perante a realidade que a história irá fazer, jamais poderia optar por uma escolha onde imperasse a batota, a trapaça, a corrupção, a marginalidade, a ameaça e a agressão física e verbal, sempre pela cabala da noite.

Nasceram assim, vão viver assim e morrerão com o SLB atravessado nas goelas, cujos dentes cariados os tomam ainda mais selváticos e boçais, quando aquelas bocarras lançam mugidos lancinantes de ódio visceral que lhes vem do mais profundo da pança, após uma digestão mal acabada das ervas secas ou da palha ingerida após uma, mais uma, conquista, de um roubo qualquer. Há seres que vivem para comer. Outros vivem para roubar. Outros ainda não sabem para que vivem, mas aguardam ordens do chefe da cavalariça, para saberem onde e quem devem atacar, aqueles que lhes podem fazer frente e os podem obrigar a engolir a erva ou a palha já ingerida, e com toda a certeza de pastos pertencentes a outros.

O chefe da cavalariça é já um cavalo bem velho, que tem um grupo de equídeos mais recentes que tratam do pasto onde pela calada da noite vão roubar os alimentos para ingerirem. O cavalo velho tem o hábito de andar com éguas novas, mas já bem rotinadas no que à procriação diz respeito. E como a natureza não se compadece com o tempo, de vez em quando lá vai o cavalo velho à procura de uns póneis, para, e pela calada da noite, lhe darem um pouco de prazer com o vigor da idade dos mesmos. E como relincha o velho cavalo, de seu nome Takiku."


José Alberto Pinheiro, in O Benfica

O granito e o vidro.

"O processo é um velho conhecido e há velhos conhecidos em certos órgãos de comunicação que o desenvolvem com esmero.

Por esta altura, entre o balanço do que foi o passado recente e o vislumbre do que poderá ser o futuro imediato, surge sempre alguém que aparenta ter como incumbência minar a confiança, lançar a insinuação e provocar um ruído de fundo de tal ordem que inquina qualquer possibilidade de comunicação. Vemo-lo há bastos anos e revemo-lo no momento presente.

Nestas últimas semanas, o jornal “Record” tem surgido com conteúdos relativos ao Benfica de tal modo absurdos e ofensivos que apenas os entendo como provocação para com os benfiquistas ou como incompetência por parte dos responsáveis por tal publicação. Não os interpreto como má-fé, pois a julgar pela falta de qualquer pedido de desculpas aos leitores após sucessivos e abusivos ‘enganos’ depreendo que aquela gente acredita piamente na estrutura granítica da sua coluna vertebral. Dizem-me alguns que a culpa é das fontes inquinadas onde bebem a informação. A esses, digo-lhes que só os toleirões bebem água de fontes que eles próprios poluíram.

Como benfiquista e consumidor de informação desportiva, resta-me apenas não comprar esse pasquim que já foi um jornal. Obviamente que daqui não vem mal ao mundo e que com esta decisão nada mudará na sólida e granítica estrutura moral dos responsáveis por um pasquim que mente aos seus leitores.

Além disso, desejo que essa estrutura seja suficientemente sólida para não necessitar dos consumidores benfiquistas. Caso assim não seja, ficarão orgulhosamente a exibir o granito da estrutura, enquanto estendem a mão aos benfiquistas, para que, mais uma vez, lhes remendemos os telhados de vidro."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica