"«Tal como Brian Clough teve êxito com o modesto Nottingham Forest em 1979 e 1980, também Mourinho conduziu o pequeno clube português à vitória na Chanpions de 2004»
Andrew Anthony, 'The Observer', 01-05-2011
«A eliminação do Real Madrid foi uma coisa boa porque jogaram antifutebol. José Mourinho era fantástico quando treinava uma equipa pequena como o Porto»
Morten Olsen, seleccionador Dinamarquês, 02-05-2011
FOI justamente entregue pelo Governo Civil do Porto a Medalha de Mérito Distrital a Pinto da Costa, presidente do FC Porto, no culminar de um ano ímpar em que o clube venceu quatro competições importantes, umas mais importantes do que outras, como é normal nestas coisas.
Embora neste rol de triunfos saborosos até conste uma competição internacional, a referida distinção do Mérito Distrital aplica-se com pertinência.
Confirmou-se nas duas últimas semanas, e com grande alarido, que nem a grandeza indiscutível dos sucessos alcançados consegue erradicar de vez a pequenez congénita do discurso do líder e, por atacado, a pequeneza dos discursos dos demais funcionários da casa, independentemente do número de anos de sócio do FC Porto que detenham.
Por um lado, o lado mais básico, compreende-se. O FC Porto começou a sua escalada vitoriosa no final da década de 70 declarando uma guerra ideológica ao Benfica e uma guerra regionalista ao país.
As últimas declarações de Pinto da Costa, elogiando o seu próprio comportamento notavelmente cívico em Dublin e no Jamor por não ter festejado efusivamente a conquista da Liga Europa e da Taça de Portugal para não melindrar os dois adversários do Norte, deixam a claro os alicerces distritais do seu pensamento.
E as primeiras palavras de André Villas-Boas, assim que terminou a final com o Vitória de Guimarães, declarando que, na próxima temporada, a Taça da Liga «será uma competição de enquadramento entre a formação e o futebol profissional» pelo que «não será objectivo a nível de conquista», fornecem a mais elementar evidência sobre o que é, ainda hoje, a única preocupação ideológica do FC Porto: o Benfica, e por mais de rastos que o Benfica esteja.
Há, também, uma componente fortemente totalitária nestes arrazoados. Tendo o Benfica ganho as três últimas edições da Taça da Liga, é importante varrer do mapa competitivo a importância da referida Taça que o FC porto nunca venceu. E, de preferência, rapidamente, antes que a competição ganhe carisma com o andor dos anos.
Lamentavelmente, o Benfica não tem autoridade moral para retorquir sobre esta matéria porque, no início da corrente temporada, quando tudo começou a correr mal, num assomo de ridículo inqualificável, anunciou publicamente que ia desistir da Taça da Liga em sinal de protesto contra o sistema. E por aqui se vê, mais uma vez, como, nestas coisas, o silêncio é de ouro.
Resta aos benfiquistas o ínfimo consolo de se ouvirem referidos nos cânticos de alegria dos rivais. É grande, enorme, a importância do Benfica para o FC Porto.
E é bom para os benfiquistas que os adeptos portistas continuem a entoar sempre a mesma canção. No dia em que a puserem de lado a situação ter-se-á alterado dramaticamente: ou o FC Porto engrandeceu e deixou de ser um clube tão distrital quanto a medalha que recebeu no início desta semana.
ESTÁ na ordem do dia a luta pelo estatuto de clube português com maior número de títulos oficiais. O FC Porto sente que as três Taças da Liga conquistadas pelo Benfica em 2009, 2010, 2011 vieram atrapalhar um bocadinho a sua contabilidade e os seus interesses hegemónicos.
Mas, quanto a isto, nada há a fazer. E não cabe na cabeça de ninguém que o doutor Fernando Gomes, actual presidente da Liga, extinga a competição, declare que a Taça da Liga nunca existiu, só para dar mais uma alegria, mais uma vitória ao seu clube do coração.
A questão parece ser agora a Taça Latina que o Benfica venceu em 1954.
Diz o FC Porto a várias vozes que esta Taça Latina não vale nada, não era oficial, era por convites e não entra em contas a sério. Este troféu disputou-se entre os campeões de Portugal, Espanha, França e Itália na década de 50 e foi, justamente, considerado como o antecedente da Taça dos Campeões Europeus, que arrancou logo no ano seguinte numa fórmula que vingou até ao início da década de 90 para dar lugar ao actual modelo da Liga dos Campeões.
A Taça Latina, tal como as primeiras edições da Taça dos Campeões Europeus, não foram uma organização oficial da UEFA. A ideia de de uma competição englobando as melhores equipas europeias nasceu na redacção do jornal francês L'Equipe que tentou vender a ideia à UEFA mas não obteve sucesso imediato.
O L'Equipe avançou sozinho e a primeira edição da prova, em 1955/56, funcionou por convites. P Sporting, por exemplo, foi o primeiro representante de Portugal na Taça dos Campeões e nem sequer tinha sido campeão na época anterior. Mas o prestígio dos seus Cinco Violinos levou o jornal francês a optar pelo Sporting em detrimento do Benfica, o campeão nacional em título.
A ideia do L'Equipe era fundamentalmente patriótica. A França tinha à época uma grande equipa de futebol e haveria grande interesse em promover uma competição internacional que exaltasse o poderio do fabuloso Stade de Reims. Não contaram os franceses, no entanto, com o poderio do Real Madrid que venceu de rajada as primeiras cinco edições da Taça dos Campeões.
O Real Madrid somou até hoje 9 títulos máximos europeus. E o seu mítico extremo Francisco Gento foi o único jogador a vencer 6 Taças ou Ligas dos Campeões, como quiserem. Mas estas são as contas da UEFA que não organizou as primeiras edições da prova que funcionaram por convite.
Pelas contas que dão jeito à lógica da desvalorização de competições do FC Porto na sua disputa directa com o Benfica pelo número títulos oficiais, afinal o Real Madrid só tem sete Taças e três quartos. Três quartos? Sim, sim, segundo consta, era um quarto para o árbitro e os outros dois quartos para os fiscais-de-linha...
PEDRO PROENÇA foi considerado por A BOLA como o melhor árbitro da temporada e concedeu uma entrevista a este jornal na sua edição de terça-feira. Proença tem ideias próprias, ao que parece, ideias com as quais é difícil não se concordar.
Defende, por exemplo, o fim da lei do silêncio para os árbitros a quem não é permitido falar depois os jogos. Proença acredita que o nível da classe seria melhorado se os árbitros fossem autorizados a «promover esclarecimentos públicos» que fossem «pedagógicos e construtivos». Tem razão Proença, era bom que assim fosse.
Até porque diluiria, com vantagem para todos, o absurdo protagonismo depositado no presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, encarregue por si próprio de falar em nome de terceiros ou garantindo o rigor de terceiros.
Será que os árbitros não sabem falar?
Em Portugal, para ouvirmos os árbitros falar e definirem-se como personalidades que são temos de esperar que se reformem e passem a comentadores na televisão ou que passem a vedetas no youtube, por força de escutas, ou que decidem, como aconteceu recentemente com Jacinto Paixão, enveredar por uma carreira audiovisual do tipo broadcast yourself.
E, perante os exemplos conhecidos, nada disto é útil ao bom nome da classe."
Leonor Pinhão, in A Bola