segunda-feira, 28 de março de 2011

Um gigante!

"Devo confessar que, num primeiro momento, a contratação de Roberto não me entusiasmou particularmente. Por se tratar de um jovem, por não actuar num clube de primeira grandeza, não o conhecia suficientemente bem. Parecia-me, também, que não era de um guarda-redes que o Benfica mais precisava naquela altura, além do elevado custo da transferência fazer aumentar os riscos.

Os primeiros tempos de Roberto na Luz não ajudaram a dissipar as dúvidas. Algumas exibições menos conseguidas lançaram-no para o banco dos réus, e muitos tentaram responsabilizá-lo pelo mau início de época do Benfica (procurando iludir a perseguição de que fomos alvo por parte de certas arbitragens). A verdade é que, volvidos poucos meses, o guarda-redes espanhol tornou-se uma das grandes figuras da nossa equipa.

Descontando um ou outro momento menos feliz, Roberto tem justificado amplamente a contratação, mostrando-se um gigante na baliza e prometendo ainda mais para o futuro. Não esqueçamos que se trata de um jogador com margem de progressão, sobretudo, atendendo à posição específica que ocupa - na qual a experiência é mãe da perfeição.

Recordo que o grande e saudoso Manuel Bento, aos 24 anos, (idade com que o Roberto chegou à Luz) ainda andava pelo Bairreirense, e só muito mais tarde viria a tornar-se naquilo que foi: um dos melhores guarda-redes portugueses de todos os tempos. Acresce que Roberto já demonstrou uma característica que ninguém de boa fé lhe poderá negar: é senhor de uma força mental assinalável, através da qual lhe foi possível resistir à campanha negra que certa Comunicação Social lançou sobre ele naquela fase inicial da temporada - a qual, diga-se, os benfiquistas ajudaram a combater, pois mesmo aqueles que, como eu, não tinham ainda certezas quanto à sua capacidade, nunca deixaram de o apoiar nos momentos mais difíceis.

Hoje ninguém duvida que Roberto é um guarda-redes para o futuro. Debaixo dos postes já é quase intransponível. No jogo aéreo vai, certamente, melhorar com o tempo."

Luís Fialho, in O Benfica

Considerações (FPF)

"Como eu calculei, os estatutos da FPF não foram aprovados na sua totalidade. As tais alíneas, que os incomodam, não fosse a arbitragem o ponto central da divergência, vão-se continuar a manter, porque eles não abdicam daquilo que os consegue manter à tona de água desde 1979. Com lisura e transparência eles podem ganhar campeonatos e taças do mesmo modo. O que acontece é que em dez anos ganham dois ou três troféus. E isso eles não querem porque odeiam o Benfica pela sua grandiosidade. E mesmo ganhando, continuam a odiar-nos. É como o anão, com os seus 70 cm, e por muito que tenha de património, roubando, odeia o vizinho que tem 1.87 m. E é por isso que eles são e serão sempre: uns anões.

É só verificar as duas mãos em lance idêntico: Roderick-penálti; Rolando-Gralha.

Ainda por cima são uns mentirosos de todo o tamanho. O nosso consócio, Pragal Colaço, tem sido vítima, dessas calúnias. É só ver o que escreveu o merceeiro Moreira nos jornais. Nem com laca no cabelo e trajes de cerimónia, deixa de ser um mentiroso. Porque é tudo só fachada.

As nossas modalidades, hei-de perder umas semanas dedicadas só a elas, estão em grande. O Andebol, mesmo perdendo tem vindo a subir de jogo para jogo, e acredito que iremos ganhar mais coisas. O que se tem vindo a fazer nas camadas jovens das modalidades dá-nos segurança e boas perspectivas quanto ao futuro.

Estreou um novo filme, cujo título é 'O ladrão e a garota de programa', num pavilhão perto de si. Rui Tendinha, crítico de cinema, que o comente."


José Alberto Pinheiro, in O Benfica

Um chinês

"From: Domingos Amaral

To: Paulo Futre


Caro Paulo Futre

À hora a que te escrevo ainda não sabemos quem será o novo presidente do Sporting, mas já sabemos que a tua conferência de imprensa entrou para a história dos momentos inesquecíveis da televisão portuguesa. Há muito que não me ria tanto, e nos dias seguintes, em qualquer sítio que se juntassem mais de dois portugueses, alguém tentava imitar-te, à tua intensidade alucinada, à tua pronúncia geograficamente inexplicável, pois nem era espanhola nem portuguesa, mas especialmente às tuas maravilhosas teorias sobre táticas, balneários, espíritos de grupo, contratações e, mais do que tudo, a teoria do chinês. Será, para sempre, um momento para recordar. Tal como todos se lembram do Marco, no “Big Brother”, quando ele dizia “falam, falam, mas não os vejo a fazer nada”, as pessoas recordar-te-ão a falar do extraordinário vigésimo jogador que irias contratar para o Sporting, um chinês! Sim, um chinês! Mas, como explicaste, não era um chinês qualquer, de olhos em bico e gosto por shop suei, era o “melhor jogador chinês da atualidade”! Genial, a sugestão, mas mais genial ainda a razão! O Sporting teria um chinês porque assim viriam “charters”, “todas as semanas”, com “400 chineses”, para assistir aos jogos do Sporting. E que ainda por cima, conseguiriam “descontos” em restaurantes e museus! Um chinês… charters… 400 chineses… em Alvalade… a visitar museus e a comer em restaurantes… genial, não é? Portugal inteiro rebolou-se a rir, e tenho portanto de te agradecer. Obrigado por nos teres dado este momento, pois, em época de crise, rir é o que nos resta, e tu conseguiste fazer rir o país inteiro."


Corrupção e desporto

"Chega até nós mais um relatório de uma organização não governamental que atesta que a impunidade da corrupção é promovida pela nossa lei e pelo sistema de aplicação da justiça. Desta feita foi a “Transparência e Integridade, Associação Cívica”, o braço nacional da Transparency International, que o confirmou. Algumas observações que resultam desse relatório: (i) a prescrição de processos não permite a punição dos crimes; (ii) o sistema judicial e os seus intervenientes são facilmente manipulados por arguidos detentores de maior influência política, social ou económica; (iii) não existe um “corpo estadual” com poderes especiais de investigação e prevenção da criminalidade económico-financeira.

São conclusões lúcidas. Ademais, continuo a pensar que, independentemente da maior ou menor bondade da lei – recentemente melhorada –, o papel fundamental cabe ao denodo e à coragem dos senhores magistrados dos nossos tribunais, sejam os procuradores do Ministério Público, sejam os juízes, em todas as instâncias. Mais do que meros “funcionários” dos tribunais, os magistrados judiciários são agentes da preservação dos valores que as leis difundem. E o “funcionalismo” desprendido da carga ético-preventiva que uma boa decisão veicula tem sido nefasto: os arquivamentos e as absolvições em casos factualmente ricos (ou deficientemente investigados) contribuem para a proliferação das más práticas e o descaminho da noção de “vergonha”. Já basta quando é muito difícil investigar e pouco ou nada se obtém. Isto é, por cada evento de corrupção que se escapa com uma nebulosa argumentação jurídica, muitos outros, pelo exemplo de impunidade, se seguirão. Este é o drama. Extensível à agressão verbal, à violência física e ao dano patrimonial.

Depois, a lei. Quando vemos condenações por corrupção, temos visto que as penas não são cumpridas efetivamente. Para um jurista esta é uma consequência percebida porque admitida pela lei. Mas suspender penas pesadas não é compreensível pelo leigo, que aí vê um “perdão” do “sistema”. É claro que a suspensão da prisão justifica-se em muitos casos concretos. Mas terá de ser feita quase como regra inflexível quando a corrupção (ou crime próximo) merece 3, 4 ou 5 anos de prisão? Enquanto a lei não proporcionar outras soluções que invertam o descrédito, as condenações não terão efeito preventivo e o trabalho judiciário revela-se inglório.

A não ser para os sectários – verdadeiros “inimputáveis” em sede desportiva –, o desporto não pode deixar de contar para os relatórios da corrupção e do tráfico de influências ilegítimo. Não podem ser denunciados no balcão das autarquias ou na inspeção das empresas e “desaparecer” nos bastidores dos estádios e dos pavilhões: o país não conhece fronteiras no assalto à ética e à decência. Esta é a luta futura do nosso desporto. Que merece uma estratégia clara e integrada – entre o Estado (com meios), o Ministério Público (com ação), os juízes (com estudo e combatividade), as federações e as ligas (com exemplo) – num próximo Governo para Portugal: um desporto limpo de violência, de dopagem e de corrupção."