quinta-feira, 24 de março de 2011

Triste UEFA

"Era um jogo da Liga dos Campeões. Os jogadores pretendiam simbolizar a sua solidariedade para com um colega, o francês Abidal do Barcelona que, por grave doença, foi sujeito a uma intervenção cirúrgica de urgência. Os jogadores eram de duas equipas: Lyon, por sinal, do seu país natal, e o arqui-rival Real Madrid.
Mas, a UEFA, capitaneada por esse, agora reeleito, insuportável Platini - que nem sequer é capaz de abotoar o casaco em cerimónias protocolares - proibiu a exibição, antes do jogo, de t-shirts, que apenas pretendiam simbolizar a homenagem a Abidal, num momento difícil da sua vida.
O que pretende, afinal, a UEFA? Transformar, de vez, um jogo numa competição desumana, entre autómatos sem coração ou mercenários sem sensibilidade? Separar, numa lógica contra toda a pedagogia, o jogador da força e capacidade exteriores, do homem da força interior da solidariedade, do humanismo e da partilha?
Uma UEFA tão palavrosa na defesa do chamado fair play, mas tão desumana e insensível nos 'detalhes' que podem tornar o futebol um desporto humanamente rico e belo.
Uma UEFA que acha equivalentes a punição de um jogador excessivamente faltoso, batoteiro ou violento no campo, e a de um atleta que mandou às malvas a compostura uefeira e fez o strip-tease de tirar, por uns segundos, a camisola para festejar o seu golo! Ou de um jogador que a levanta para dar os parabéns a sua mãe, como aconteceu com Messi, por isso multado!
Tudo tão tristemente ridículo. Cheirasse a euros, patrocínios, beberetes, sorteios e festarolas cheias de salamaleques e o senhor Platini aplaudiria. Claro está, tudo em nome da mais pura ética competitiva... Uma vergonha!"

Bagão Félix, in A Bola

Uma mão não lava a outra

"A Inglaterra da senhora Magaret Thatcher resolveu o problema do hooliganismo de uma penada. Criou especialmente para o efeito um War Gabinet - porque uma guerra ao crime é sempre justa. E, em 1989, o parlamento inglês aprovou uma lei - Football Spectators Act - regulando o comportamento exigido aos espectadores. Por exemplo, obrigava todos os delinquentes confessos e referenciados a apresentarem-se em esquadras da polícia à hora do futebol de modo a não contaminarem com a sua presença o ambiente familiar e pacífico de um jogo.
A senhora Thatcher, numa célebre conferência de imprensa que marcou o arranque da operação, concedeu plenos poderes à polícia para forçar, sem hesitações, o cumprimento da lei. E recomendou penas de prisão duras - stiff - para os delinquentes. Se alguém estiver interessado em consultar o célebre e eficaz Football Spectadors Act, o documento está disponível on-line (legislation.gov.uk)
Com a ajuda de câmaras nos estádios e nas suas redondezas, com o apoio incondicional dos clubes e dos adeptos, os hooligans foram sendo identificados, isolados e presos. Também é verdade que o problema inglês, talvez por ser inglês, não tinha os contornos do problema português que nunca, ao longo das últimas três décadas, ninguém com responsabilidades governamentais teve vontade e coragem política de resolver.
Porque o hoolinganismo em Portugal começa lamentavelmente no dirigismo. E se isto se passasse em Inglaterra, com a senhora Thatcher ou com outro primeiro-ministro qualquer, o problema do hooliganismo de top seria resolvido da mesma forma implacável aplicada exclusivamente aos spectators.
No fundo, o problema português não é mais do que um longo historial de impunidades celebradas como vitórias políticas e mediáticas sobre os adversários de circunstância. E, por défice de cultura civilizacional inata - aquilo a que vulgarmente chamamos de «terceiro mundo», abusivamente julgando que dele não fazemos parte - os nossos políticos têm literalmente medo dos senhores da bola e dos votos que os podem fazer perder as vantagens do pote.
É este o lugar onde vivemos. Nunca o nosso parlamento aprovará e fará cumprir uma lei anti-hooliganismo porque o nosso parlamento, quando se trata de futebol, serve apenas para recepções e estender de passadeiras às grandes referências do estado a que isto chegou.
Tudo isto é uma grande tristeza.
Quando em 1996 um very-light atirado de uma bancada do Jamor atingiu mortalmente um espectador da final da Taça de Portugal, houve um grupo largo de sócios do Benfica que subscreveu um abaixo-assinado exigindo à direcção do clube - então presidida por Manuel Damásio - que suspendesse imediatamente qualquer tipo de apoio ou de patrocínio a grupos organizados de delinquentes.
Este grupo de sócios do Benfica - Bagão Félix, Francisco Cunha Leal, Medeiros Ferreira são alguns nomes de que me lembro entre mais de uma centena - foi, na altura, muito criticado, até na imprensa, por se estar a «aproveitar» de uma fatalidade para ter protagonismo...
A semana e meia do próximo encontro entre o Benfica e o FC Porto assistimos a mais uma escalada de estupidez e violência. Melhor dito, a uma escalada de impunidade.
É este o lugar onde vivemos. Um lugar onde líderes de claques escrevem autobiografias com relatos épicos das suas proezas e continuam a ir ao futebol todas as semanas. Um lugar onde a cada selvajaria se contrapõe uma selvajaria adversária porque uma mão lava a outra no futebol, na política, em tudo.
Mas uma mão não lava a outra. Há sempre um dia em que uma mão não lava a outra. E esse dia, um dia, há-de chegar.
NUNO GOMES fez mais uma aparição notável em Paços de Ferreira e carpinteirou dois golos na Capital do Móvel em apenas 13 minutos. Nuno Gomes jogou 88 minutos esta época e fez 5 golos. A proeza confere-lhe um atributo único. Ninguém acredita que possa existir neste mundo outro jogador que marque 1 golo de 17 em 17 minutos.
É caso para se dizer que o Nuno Gomes está a envelhecer muito bem.
FOI, sem dúvida, uma excelente jornada para os benfiquistas estudiosos das estatísticas. Tomemos o exemplo de Óscar Cardozo que em Paços de Ferreira abriu o marcador concretizando um pontapé de grande penalidade o que para o nosso paraguaio é, praticamente, uma proeza. Com este pontapé certeiro, Cardozo deixou de ser um irregular marcador de penalties para passar a ser um modelo de regularidade: esta época, em 6 grandes penalidades, Cardozo falhou 3 e marcou 3 entrando na casa dos 50 por cento de hipóteses para cada lado.
Até Paços de Ferreira, Cardozo estava a perder este seu campeonato particular com os pontapés de onze metros e os adeptos do Benfica estavam a perder a paciência. Apenas Jorge Jesus conseguia mostrar fé no paraguaio, insistindo em conferir-lhe semelhante responsabilidade e explicando que sem Kardec em campo - segundo o técnico do Benfica, o brasileiro é exímio nessa arte - Cardozo será sempre o marcador natural desse tipo de castigos.
Até aprender, acrescentamos nós.
QUEREM saber o que é uma verdadeira relação de causa-efeito no futebol?
Então tomem lá: Paulo Bento convocou Rúben Micael para a selecção e, menos de 24 horas depois, o Tribunal Arbitral do Desporto anulou a suspensão ao ex-seleccionador Carlos Queiroz.
POR falar em Justiça... os estatutos da Federação Portuguesa de Futebol foram vagamente aprovados e a UEFA tentará agora, com muita dificuldade, perceber se a nossa Federação reúne os requisitos de legalidade obrigatórios para a comunidade internacional da bola. Aqui entre nós, todos os portugueses, sabemos bem que o que se passou na última assembleia-geral da FPF. Tratou-se de uma habilidade para estrangeiro ver e essa, com aplicações extra-futebol, é uma arte especificamente nacional.
No entanto, há pormenores em que a UEFA, nem com uma brigada de tradutores, conseguirá, destrinçar. Por exemplo, o presidente da Associação de Futebol do Porto proferiu no final da magna reunião a sua opinião sobre o referido acto associativo e, em particular, sobre «os três artigos que ficaram por resolver». Em declarações proferidas a este jornal, Lourenço Pinto referiu que esses mesmos artigos em falta «são aqueles que», no seu modo de ver, «carecem de ilegalidades».
Carecem de ilegalidades? Têm ilegalidades a menos?
Foi lapso? Foi gralha?
MIGUEL SOUSA TAVARES escreveu na edição de terça-feira de A BOLA que o FC Porto «é o maior caso de sucesso individual e colectivo que Portugal protagonizou nos últimos trinta anos».
Estão a ver como o FC Porto é o clube do regime?
COM as sondagens a falar verdade, Bruno Carvalho vai ganhar as eleições para presidente do Sporting e Marco Van Basten vai ganhar as eleições para treinador. Se, depois, tudo correr bem, Van Basten será bestial e, certamente, uma figura de culto em Alvalade. Se tudo correr mal, já se imaginam as manchetes dos jornais dedicadas ao treinador besta: Van BASTA! A imaginação também não dá para mais."
Leonor Pinhão, in A Bola