quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

É preciso desmascarar a Internet! (que é muito perigosa e revolucionária)

"A Internet é, na verdade, uma coisa muito perigosa e revolucionária como se tem visto ultimamente na televisão. Funcionando sem censura e sem intermediários, as redes sociais ligam as juventudes insatisfeitas de paragens longínquas e provocam revoluções. O Youtube também é outro problema grave porque disponibiliza, sem intermediários e sem censura, um arquivo global que vai das cançonetas aos segredos dos Estados.
Mais cá pelas nossas bandas, curiosamente, é o Futebol Clube do Porto que não se dá nada bem com estas modernices da internet.
Por exemplo, o tal Youtube é uma pedra no sapato do presidente Pinto da Costa. Bem pode este conhecido dirigente instalar arraiais, lançar foguetes e festejar o cortejo típico de absolvições no processo Apito Dourado, bem pode regozijar-se com o bom funcionamento da justiça e lançar farpas aos seus desconsolados e exauridos acusadores...
Mas, enquanto aquela coisa da Internet funcionar, o presidente Pinto da Costa bem pode contar com a indiscrição de todos - e são muitos - os que, por entretém ou por curiosidade social mórbida, procuram (e encontram!) no Youtube as gravações das conversas da «fruta de comer», da camisola do Rui Jorge, da «chantagem fantástica», das indicações de trânsito para sua casa prestadas por terceiros ao árbitro Augusto Duarte, isto para terminarmos o rol de forma automobilística que é sempre a mais rápida.
Enfim, gravações tão viçosas e tão frescas como o eram no própria dia em que foram colhidas pelos aperelhómetros de um polícia que não tinha mais nada do que fazer a não ser gastar mal o dinheiro dos contribuintes.
Como se não bastasse o Youtube a aborrecer o presidente, nas últimas semanas um novo incómodo internético resolveu fazer a sua aparição através das chamadas redes sociais que são umas redes e pêras. O problema das redes sociais é que não há blindagem que se lhes aplique.
Tomemos por exemplo o celebradamente bem blindado balneário do FC Porto de onde nada transpira para o exterior. Os jogadores nos seus discursos afinam todos pelo mesmo diapasão, não há uma voz discordante, nem um lamento, nem um remoque. O que os jogadores dizem é transmitido pela imprensa que serve de intermediário entre o pensar do plantel e o público em geral que, assim instruído, se verga de admiração ao sucesso da blindagem de um balneário.
Tudo isto foi, no entanto, posto em causa pelo Faceboock e pelo Twitter porque não há blindagem que lhes chegue. E também porque não há intermediários...
As piadas do pseudo-Fucile sobre a «experiência» e o «conhecimento» de Villas Boas no Faceboock e os protestos do pseudo-Guarín, no Twitter, por não ser mais vezes utilizado ou são obra de piratas informáticos ou são a prova de que a internet veio mesmo para ficar.
DURANTE alguns anos André Villas Boas fez parte da equipa técnica de Mourinho. Tinha a função de assistir aos jogos das equipas adversárias e de escrever relatórios para entregar ao patrão com a análise circunstanciada das suas observações. Basicamente era este o seu emprego e eram estas as suas qualificações profissionais até aceitar o convite da Académica para ser treinador principal.
Depreende-se hoje que as relações entre Mourinho e Villas Boas não são as melhores do mundo. Serão lá coisas entre eles, mas a verdade é que Mourinho ao dizer, recentemente, que «ganhar campeonatos em Portugal é muito fácil» provocou logo uma reacção azeda do seu antigo subalterno que sentiu desconsiderado, menosprezado, o trabalho que tem vindo a realizar no seu actual emprego.
Talvez fosse essa a intenção de Mourinho. Aborrecer Villas Boas que se aborrece facilmente, como é público e notório. José Mourinho, pelo seu lado, não é pessoa para se aborrecer com Villas Boas nem para perder tempo a tecer opiniões sobre o arranque da carreira a solo do actual treinador do FC Porto.
Mourinho é de outros campeonatos. É um ícone de dimensão mundial. O seu famoso sobretudo cinzento-escuro, styled by Giorgio Armani, ainda hoje está exposto no Museu de Chelsea, enquanto um seu segundo sobretudo-sobressalente, foi oferecido e leiloado em benefício de uma causa humanitária e rendeu uma considerável fortuna.
Pois nunca se ouviu Mourinho ironizar com Villas Boas por este, nos seus tempos de Coimbra, num momento de euforia, ter oferecido o seu não tão mítico casaco à Mancha Negra, claque oficial da Académica, «depois de um jogo difícil com o Leixões», como recordou Orlando, jogador da Briosa, em declarações à revista Sábado.
A vida é assim mesmo. Há casacos e há sobretudos e há, sobretudo, tamanhos, dimensões, estilos. E há competências.
Por essa mesma razão é de acreditar que o afastamento entre os dois treinadores tem origem, precisamente, numa questão de competência que é preciso desmascarar.
Em causa só pode estar a qualidade dos relatórios com que Villas Boas presenteou o seu chefe durante alguns anos.
Consta que Mourinho já não andava satisfeito com as observações do observador. Tudo isto era, admita-se, bastante inverosímil até Villas Boas, na noite de domingo, depois de ter vencido em Braga, resolver fazer em voz alta, para toda a gente ouvir, o relatório do FC Porto, 0-Benfica, 2 para a Taça de Portugal, no Estádio do Dragão.
Eis o que Villas Boas observou: «Foi um jogo em que fomos sempre melhores e mais fortes.»
Compreende-se, agora, a razão porque Mourinho dispensou os serviços de Villas Boas. Com relatórios destes, Mourinho não tinha nada que agradecer ao seu observador. Já Villas Boas melhor faria em agradecer a Helton aquela fabulosa defesa com as pernas, aos 76 minutos de jogo, com que impediu Cardozo de fazer o 3-0 para o Benfica.
Três-a-zero contra a corrente do jogo, sem dúvida, era muita fruta.
AS definições dos melhores lugares na tabela obrigam a amizades de conveniência. Manuel Machado, até à próxima segunda-feira, é do Benfica e só deseja boa sorte a Jorge Jesus.
Ninguém lhe pode levar a mal. O Vitória de Guimarães sente-se com capacidade para chegar ao terceiro lugar e o seu treinador conta com o Benfica para atrapalhar o Sporting.
Manuel Machado até foi mais longe na sua antevisão do derby «Se tudo correr dentro da normalidade, o Benfica é favorito», disse. E disse isto antes de se saber que o árbitro para Alvalade vai ser Artur Soares Dias, o que tem ainda mais valor.
SIDNEY jogou muito bem contra o Vitória de Guimarães. O seu passe para o golo de Aimar teve tenta qualidade quanta a do remate com que o argentino conclui a jogada mais simples do jogo. O seu passe foi tão bom que alguns adeptos do Benfica, um bocadinho cépticos, encolheram os ombros e disseram que tinha sido por acaso. Mas passado pouco tempo, Sidney dez outro passe longo e perfeito do mesmo género e calou logo os não crentes. Só que desta vez não deu golo.
Mas deu esperança."
Leonor Pinhão, in A Bola

Moção de cintura

"Mais ou menos a fingir, a política portuguesa vive no intervalo entre moções de censura e a ausência de moções de confiança.
Também no futebol português, pelos vistos, não bastam moções de censura. Perante aquilo a que vimos assistindo, sugiro que se passe ao grau seguinte: a necessidade de uma moção de... cintura.
Uma moção de cintura que, de uma vez por todas, erradique a hegemonia dos que só têm jogo de cintura, numa constante metamorfose camaleónica, sempre a exclusivamente preocupados com a preservação e perpetuação de pequenos e médios poderes intestinos, de que se julgam proprietários.
Uma moção de cintura que afaste, definitivamente, os falsos centuriões que se reclamam de detentores do poder absoluto.
Uma moção de cintura que acabe com a vantagem desonesta de se conspirar, transaccionar ou condicionar na margem. E que, ao invés, permita renovar, saudável e geracionalmente, o escol dos dirigentes, e torne efectivo o necessário escrutínio de uma actividade onde se movem interesses poderosos e dinheiro fácil.
Uma moção de cintura que possabilite um cinto de salvação para o nosso futebol.
E, desse modo, seja meio caminho andado para afastar comprometimentos espúrios, incompatibilidades deontológicas, gorduras de sentido único, e afinidades disruptivas. Um bom cinto de salvação exige envolvimento e aperto. Por outras palavras, carácter e responsabilidade. Ética e desapego. Estratégia e imparcialidade. Emagrecimento e contenção. E, sobretudo, exemplaridade."
Bagão Félix, in A Bola