domingo, 26 de dezembro de 2010

O Pai Natal é vermelho?

"E que tal o Benfica que defrontou o Rio Ave? Deu ou não para recordar alguns dos melhores nacos de bola que a equipa exibiu na temporada passada? Houve momentos de esplendor, momentos de sedução. Houve excelentes movimentações ofensivas, houve mais desequilíbrios, mais soluções. Foi frente ao Rio Ave? E não se bateu com galhardia e competência a turma de Vila do Conde? A ultima exibição do ano transmitiu confiança. Fez aproximação ao verdadeiro Benfica, ao Benfica por que anseiam os adeptos. Hegemónico, luzidio, goleador. Será para continuar? Só pode ser para continuar. Mais do que isso, só pode ser para melhorar. Mais do que a técnica ou táctica, talvez que a crise que passou tenha sido sobretudo emocional.
Com a aproximação ao perfeito, com o apoio incondicional doa aficionados, com acréscimo de firmeza, com suplemento anímico, tudo reunido, algo que só boas vitórias podem trazer, o grande Benfica estará de volta, a tempo ainda de averbar conquistas importantes na época em curso.
Paradoxalmente, o Pai Natal, na presente edição da Liga nacional, apareceu muito antes de Dezembro, trajado de azul... e branco. Que dizer dos benefícios que o FC Porto tem tido? E dos prejuízos do nosso Benfica? Caso imperasse a justiça e a isenção, não estaria o Benfica praticamente ao líder na pauta classificativa? Devolva-se, então, o vermelho ao pai Natal, de resto a sua cor genuína. Com uma recomendação apenas, a de que não são precisos favores, não são precisas prendas, só se exige equilíbrio nas decisões."

João Malheiro, in O Benfica

O Cortejo

"No passado fim-de-semana, na Mata Real, lá vimos mais um. Desta vez foi o Artur Soares Dias, mas podia ter sido um dos outros, um daqueles que continuam a perpetuar um cortejo que já vai longo. Há quase trinta anos que os vemos: António Garrido, José Silvano, José Pratas, Martins dos Santos, Miranda de Sousa, Carlos Calheiros, Jacinto Paixão, José Guímaro, António Costa, Paulo Costa, Donato Ramos, Fortunato Azevedo, Augusto Duarte e tantos outros Coroados da vida. Coitados, o destino não lhes dá tréguas.
E nós, adeptos, lá vamos protestando num diálogo inútil com um poder bafiento, ultrapassado e que recentemente, ao enlamear o nome do juiz Ricardo Costa, fez o funeral ao último resquício de dignidade que por lá andou. E enquanto a dignidade não volta, apercebemo-nos de que já se vai preparando um qualquer Paulo Costa para se atirar aos destinos da arbitragem, quando esta passar a ter coutada e feudo na publicamente inútil Federação Portuguesa de Futebol. E tudo continuará como tem sido: com a fina ironia a manifestar-se nos intervalos da generosa missão de receber árbitros em casa nas antevésperas dos jogos.
E não, isto não é um lamento nem uma revolta – já lá vão esses tempos – é apenas a garantia de que só nos vencem no dia em que baixarmos os braços, no dia em que desistirmos. Até lá, é derrotado o futebol e são derrotadas as instituições que deveriam garantir a justiça; é derrotado Portugal e são derrotados os portugueses que aceitam servilmente este jugo hipócrita. Derrotados nunca serão os que não desistem, porque podemos andar de cabeça erguida e olhá-los nos olhos, enquanto vemos passar este cortejo de indecentes disfarçados de penitentes."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica