quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Aves natalícias

"O período natalício (que não necessariamente o Natal) e o futebol têm em comum uma certa ligação às aves. Desde o peru que se imola para deleite gastronómico ao que se tem de engolir quando o guarda-redes sofre um frango em versão superlativa. Desde o galo enaltecido na meia-noite natalícia e amaldiçoado nos dias em que a bola é atraída pelo íman dos postes.
O que não imaginava era que, na Luz, este Natal ficasse associado a outra ave: a águia Vitória que se costuma exibir no prelúdio dos jogos. No passado sábado, no jogo com o Rio Ave (outra vez a ligação à ave), não houve o voo do passarão, embora tivesse havido o voo das águias que ressurgiram como campeãs. Por este andar e pelas notícias conhecidas, a dita águia vai acabar os seus dias no Desportivo das Aves, travestida de ave de arribação!
Por falar em aves e em futebol, há outras espécies que, de quando em vez, aparecem exuberantes: o abutre e o milhafre, aves de rapina em momentos cirurgicamente escolhidos; o papagaio e o cuco que exprimem toda a sua verve em conferências de imprensa ou fora delas; as aves canoras sempre chilreando para o lado (dos problemas); as aves agoirentas espalhando toda a sorte de desgraças; e a avis rara que, messianicamente, se auto-intitula salvadora de qualquer coisa a começar por ela.
Ultimamente, surgiu também uma nova versão de pavão: jovem, insinuante, enfatuado, com uma visão algo distorcida pela longa plumagem azulada e que gosta de entretenimento dos silvos (ou falta deles) nos relvados. Garantiram-me que, afinal, é um garnisé (geneticamente modificado) que, como o nome indica, é oriundo da ilha de Guernsey e por isso tem ascendência britânica."

Bagão Félix, in A Bola

O futebol tem muitos botões (especulações sobre a sucessão de Villas Boas e da águia 'Vitória')

"PINTO DA COSTA, naturalmente, não se poupa a cautelas e, antecipando, preocupa-se com a sucessão de André Villas Boas. E já escolheu o próximo treinador do FC Porto: Jorge Jesus.
É uma escolha acertada, sem qualquer espécie de dúvida. Jesus é muito competente no que fez e até poderia ser o actual treinador do FC Porto se tivesse dito que sim ao desafio que lhe foi lançado no final da época passada. Mas Jesus optou por ficar no Benfica, renegociando o seu contrato, como lhe era legítimo, e o FC Porto foi buscar André Villas Boas a Coimbra desviando-o do seu caminho para Alvalade.
O futebol arrasta multidões porque tem destas pérolas especulativas que fazem as delícias de todos os adeptos. Tivesse Jesus tido para o FC Porto e, para comemorar os 50 anos do desvio de Eusébio do Sporting para o Benfica, lá teria sido o Benfica que acabava por ficar com Villas Boas com quem chegaria a acordo em menos tempo do que o Costinha leva para abotoar um fato completo.
O futebol, como se sabe, sempre foi um assunto de botões.
Para Pinto da Costa, Jesus tem dois botões muito apetecíveis de descoser: é um bom treinador e é um treinador cuja deserção seria sentida pelos adeptos do Benfica com mágoa.
Neste sentido, o presidente do FC Porto tem vindo a trabalhar com muito propósito. Nunca, desde que Jesus chegou à Luz, falou do técnico em causa com desrespeito ou hostilidade e, fica a aposta feita, será isso mesmo que dirá a Judite Sousa quando for entrevistado na RTP num futuro, vá lá saber-se, mais ou menos próximo.
Ainda esta semana, numa entrevista concedida à Rádio Renascença, Emissora Católica Portuguesa, Pinto da Costa voltou a elogiar o treinador do Benfica e isentou-o de culpas do mau arranque do campeão nesta temporada. Estão a ver, não estão?
Aliás, o presidente do FC Porto demorou-se dez vezes mais a falar do Benfica do que do FC Porto. Praticamente só não falou sobre o problema da águia Vitória e não deixa de ser incrível como é que o jornalista entrevistador não se lembrou de lhe perguntar a sua opinião sobre o referido caso zoológico.
E mais lhe valia ter falado sobre a águia Vitória - ...se o Benfica fosse o Sporting até já lhe chamaríamos de águia «podre»... - do que ter enveredado pela aritmética especulativa, como se uma coisa destas fosse possível. Disse Pinto da Costa à antena católica que se há coisa que lhe agrade «é jogar em último lugar» porque assim dá «a felicidade de, durante 24 horas, estarem a 5 pontos».
Ora fez mal as contas e contra si próprio.
Pois se o FC Porto ainda não jogou é porque o jogo ainda não começou e, que se saiba, os jogos quando começam estão sempre empatados, 0-0, o que vale desde logo 1 ponto para cada equipa. Portanto, se o Benfica, jornada a jornada, conseguir ganhar na véspera do jogo do FC Porto fica a 6 e não a 5 pontos do seu adversário. Ou não é assim?
O mundo do futebol tem dois novos grandes temas para seguir com fervor mediático. O evoluir das relações entre José Mourinho e Jorge Valdano, no Real Madrid, e o evoluir das relações entre Costinha e José Couceiro, no Sporting. Mourinho, à partida, parece o mais seguro de todos até porque já tem uns bons meses de casa.
Couceiro, por exemplo, ainda nem entrou ao serviço e já Carlos Janela, com quem trabalhou na SAD do Sporting em 1998, veio recordar que o evoluir das relações entre os dois no século passado não foi nada agradável. Janela, que aparentemente tem boa memória, disse mais: que o facto de Couceiro ter imposto as contratações de Renato, Leão e Damas não ajudou muito a alegrar o ambiente em Alvalade.
Ninguém sabe como vão evoluir as relações entre Mourinho e Valdano nem, muito menos, que trocas de acusações poderão vir a fazer entre si.
No caso de Costinha-Couceiro torna-se mais fácil todos especularmos com os nossos botões. Imaginem-se as trocas de acusações entre o homem que contratou Leão, Damas e Renato contra o homem que contratou Tales, Zapater e Hildebrand. E vice-versa.
NO fim-de-semana passado o Benfica venceu Rio Ave por 5-2 e jogou bem. Ou seja, ao longo dos 90 minutos jogou mais tempo bem do que o tempo em que jogou assim-assim. É um progresso. Aliás, excepção feita ao desastre na Liga dos Campeões, o Benfica tem vindo a progredir. Anteontem, nas páginas deste jornal, o Fernando Guerra explicava que se o campeonato «tivesse começado à 5.ª jornada, O Benfica seria primeiro com 27 pontos, e o FC Porto segundo, com 26 pontos».
O Rio Ave também jogou bem. O João Tomás jogou ainda melhor e até marcou dois golos. Trata-se de um excelente ponta-de-lança e já tem 35 anos. Marcou o seu segundo golo de grande penalidade. Mandou o guarda-redes para um lado e a bola para o mesmo lado, só que Roberto chegou tarde.
Ainda ficámos todos à espera que o árbitro o mandasse repetir o pontapé. Teria a sua graça. Mas os árbitros portugueses não têm sentido de humor.
AGORA que acabou a época de futebol nos EUA, David Beckham, em férias dos L.A. Galaxy, mostrou desejo de jogar até à Primavera na Europa para não ganhar peso nem perder a forma. Beckham, que tem a mesma idade de João Tomás, ainda sonha com a selecção do seu país o que só lhe fica bem.
Segundo a imprensa britânica, o jogador chegou ao ponto de mostrar publicamente desejo em alinhar pelo Bayern de Munique, não descartando também o interesse em fazer uma perninha ou no Benfica ou no Olympique de Marselha.
Que venha Beckham para o Benfica! E imediatamente teremos resolvido o problema da sucessão da Vitória. Com uma Vitória Beckham na Estádio da Luz quem se lembraria mais de uma simples ave espanhola?
E nem seria preciso pôr a Vitória Inglesa a fazer rappel desde o topo da bancada até à relva.
Fica, no entanto, a sugestão.
O espectáculo resolve-se facilmente com roldanas. E com botões de aço.
NA segunda-feira, foi-se embora o Aurélio Márcio. Tinha 91 anos. Foi um homem com um sentido de humor pragmático. Nunca deixava escapar uma oportunidade de explicar aos poetas líricos do futebol como é que as coisas, na realidade, se passam.
Era um prazer vê-lo, contido, very british a ouvir os outros a falar de um jogo de futebol.
Alguém, por exemplo, entusiasmava-se com a descrição plena de metáforas de uma jogada de um extremo, que fintou o adversário, foi à linha e centrou... uma coisa bestial. E o Aurélio Márcio, sem descruzar os braços, ouvia, ouvia e depois perguntava: «Então mas não é para isso mesmo que lhe pagam?» E acabava-se ali a conversa. Desligava-se o botão, compreendem?"

Leonor Pinhão, in A Bola

Objectivamente (papagaio)

"Há um novo 'papagaio' que vestirá de 'azul e branco' para o resto da vida. Chama-se Jesualdo Ferreira e ainda não parou de dar entrevistas desde que saiu da equipa que ganha campeonatos ligas e afins com grandes ajudas de árbitros, CD e CJ. A última foi para elogiar - a muito custo, diga-se - o André Boas que conseguiu novo recorde de jogos sem perder como se isso fosse impossível enquanto existirem Olegários, Sousas e Elmanos! Uma vergonha este fraco treinador que arrumou o Málaga em dois meses e já conseguiu a proeza de tirar o Panatinaikos do primeiro lugar do campeonato grego em apenas três semanas! É impressionante o carinho que os amigos jornalistas do Porto lhe dispensam!
Dá entrevistas quase todas as semanas, se não é por isto é por aquilo. E não mostra trabalho, o que seria se conseguisse bons resultados como outros, como o Nelo Vingada, p. e., que não pára de ganhar títulos por todos os continentes onde passa!
Mas é assim este miserável ambiente no futebol português onde os compadrios continuam a ditar leis!
'Mais vale cair em graça que ser engraçado', como diz o velho ditado. E este Ferreira caiu mesmo em graça dos 'amigos' do Porto que têm sempre o seu número de telefone à mão para lhe arrancar uma declaraçãozita com críticas aos rivais do FCP. Mesmo com o ar carrancudo consegue simpatia q.b. para dar manchetes a 'O Jogo' com frases de género: 'Assim também eu... o Benfica não está a jogar nada e por isso é fácil ao André bater o meu recorde!...' Entretanto, p 'amigo' jornalista insiste: 'Mas você não teve o Hulk e o FENOMENAL Sapunaru?!'.'Pois, mas o problema foi a instabilidade que esse processo provocou na equipa!' Eu imagino a conversa em 'off' !!! Vá aí mais uma ajudinha a lavar a imagem deste genial treinador! Por aqui não esqueço a humilhação que o Gondomar provocou na Luz, eliminando o Benfica da Taça de Portugal. Era ele o genial treinador do SLB!"

João Diogo, in O Benfica

Qual FC Porto?

"Já aqui elogiei várias vezes a equipa do FC Porto. É uma equipa possante, com um ataque temível, uma defesa muito dura e um meio-campo que em geral funciona.

Só que, sem se perceber bem porquê, esta equipa às vezes desaparece do campo, passando do brilho à mediocridade num abrir e fechar de olhos.

O FC Porto foi brilhante no modo como cilindrou o Benfica, não lhe dando a mínima hipótese. É portanto inteiramente justo estar à frente do campeonato. Mas não é menos verdade que o avanço portista podia ser muito mais curto. Tenho na memória dois jogos que valeram seis pontos – e que podiam ter valido só um ou dois.

Logo no primeiro jogo do campeonato o FC Porto ganhou os três pontos com um penálti inacreditável aos 84 minutos. E no jogo com o Setúbal marcou o seu único golo através de um penálti-fantasma – tendo o árbitro anulado à beira do fim um penálti limpo do Setúbal!

Portanto, o FC Porto podia só ter três ou quatro pontos de avanço sobre o Benfica.

E no domingo passado, em Paços de Ferreira, voltou a ser uma equipa feliz: marcou um golo na sequência de um livre duvidoso, viu o adversário falhar várias oportunidades de marcar – e acabou por arrumar o jogo num penálti caricato.

Perante isto, coloca-se a seguinte pergunta: qual é o verdadeiro FC Porto – o que esmagou o Benfica ou o que foi vulgarizado na segunda parte pelo Setúbal e pelo Paços de Ferreira? E qual vai ser o FC Porto de 2011: um Porto possante e goleador ou um Porto triste e apagado, a precisar que os árbitros lhe ponham a mão por baixo?"