quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Triste País...

Correia dos Santos, e Aurélio Márcio deixaram o mundo dos vivos nos últimos dias, um Sportinguista, outro Benfiquista, um atleta, outro jornalista, ambos com carreiras dignas, e honestas, que honram os seus nomes, e as suas famílias. Ambos conseguiram reconhecimento Mundial, um patinando, o outro escrevendo, ambos atingindo patamares de excelência, afirmando-se sempre pela positiva, com mérito, e brio. No caso de jornalista ainda podemos acescentar aos adjectivos: 'soldado' da liberdade, contra a censura - que falta fazem exemplos destes no actual panorama da (des)comunicação social desportiva portuguesa.
Mas em Portugal estas caracteristicas não são suficientes para se ser 'mediático', e assim com a morte de outra figura pública desportiva, o desaparecimento dos dois primeiros passou para segundo plano!!!
Do senhor Monteiro não se sabe se alguma vez deu alguma coisa de positivo ao futebol, ao desporto, ao Direito, ou a outra coisa qualquer. Alimentou ódios, mentiu, foi malcriado, ofendeu pessoas e instituições, defendeu activamente organizações criminosas... qual fiel canino, que mesmo depois de levar pontapés do 'dono', continuou sempre a 'abanar a cauda', sempre que o senhor Costa 'aparecia'!!!
Neste triste cantinho, uma figura destas, mesmo na hora da morte, conseguiu 'ganhar' em protagonismo a dois enormes 'profissionais' do desporto português!!! Tanto na comunicação social generalista, como na desportiva (se a 'outra' se pode desculpar a ignorância, a desportiva é indesculpável)!!!
E depois a gente ainda se queixa do estado do futebol em Portugal, quando são estes os critérios de reconhecimento público pelos serviços prestados. Com exemplos destes...!!!

(E)ternamente Eusébio

"Faz hoje, 17 de Dezembro exactamente 50 anos que Eusébio chegou a Lisboa. Muitos textos laudatórios dispensei ao ídolo, ao amigo, ao padrinho de casamento. Basta-me, para tanto, o recurso ao meu arquivo que só ele poderia hegemonizar.
Veio de Lourenço Marques, da então África Oriental portuguesa. Ou será que veio do outro mundo? Eusébio, encurralado pelo colonialismo, no bairro da Mafalda, com aura quase angelical, pés descalços, corpo de vento, alma gentil, sangue de bola.
'I have a dream', terá dito, como Luther King, à chegada a Lisboa, menino ainda, disputado pelo Sporting, fiel ao Benfica. Dizia sim, diziam não. Dogmatizava a bola. Rajada fatal. Batuta de génio. Sedução hipnótica. Deus nativo na Luz.
Antes dele, só crença. Formou-nos o gosto, fez-nos exigentes. Culposamente, Eusébio era Portugal, era todos nós sendo apenas ele. Jamais houve um jogador tão sectariamente sublinhado. Gostava de discursar em campo, fazendo das consoantes passes e das vogais golos. Uma das poucas personalidades planetárias conhecidas pelo nome próprio.
Foram Bolas de Ouro e de Prata. Botas também. Campeonatos muitos. Em Portugal, na Europa, no Mundo. Foram mais de mil remates com rótulo certeza, nesse prazer animal, a caminho da bíblia da bola. Entre ele e os demais havia tantos fusos de distância. Só não conquistou a liberdade para marcar quando quisesse. Esteve tão próximo como os outros tão distantes. Humildemente, pediu desculpa. Por isso era grande, por isso Eusébio é o maior."
João Malheiro, in O Benfica

Obrigado, Eusébio

"Já alguém terá feito esse exercício mental? O que seria o futebol sem Eusébio? Chegou a Lisboa há 50 anos e, com ele, tudo mudou. O Benfica? O Benfica e Portugal. Mesmo a bola planetária passou a referenciar uma das suas maiores divindades.
De Eusébio está tudo dito, mas tudo tem de ser sempre dito. Eusébio foi uma espécie de milagre neste país triste e envergonhado da década de sessenta. Transformou o Benfica num clube mítico. Em tempo de ditadura, colocou Portugal no mapa afectivo. Foi tudo por nós, sendo apenas ele. Sempre disse que antes de saber que me chamava Malheiro, já sabia dizer Eusébio, já sabia quem era Eusébio, já sabia que o meu ídolo era Eusébio. Só não sabia que, alguns anos volvidos, Eusébio estava no leque restrito dos meus melhores amigos, só não sabia que Eusébio haveria de ter a sua biografia assinada por mim, só não sabia que Eusébio seria padrinho de um dos meus casamentos, só não sabia que com Eusébio viria a servir o nosso Benfica.
Um dia, ainda no começo da década de 90, num jantar que organizei na Costa de Caparica, estava a nossa forte e arreigada amizade numa fase embrionária, Eusébio pediu-me um autógrafo. Fiquei apopléctico. A mim? Que troca absurda de factores era essa? Percebi então, emocionadamente, que só a humildade faz os grandes. Por isso é que Eusébio é tão grande. Por isso também percebi que só humildemente poderia continuar a ser credor da sua bênção amiga. Até porque, a seu lado, a minha pequenez me engrandece."

João Malheiro, in Destak

Artur Correia

"Quis voltar a falar e falei, quis voltar a andar e andei, quis voltar a ter uma vida normal e aqui estou hoje a falar-vos do Benfica e da minha experiência." Para todos aqueles que já o ouviram a recordar os momentos de competição ou simples curiosidades é mais fácil perceber a grandeza do seu benfiquismo. Raras são as experiências de tamanha força, coragem e persistência como a de Artur Correia. Francamente, não conheço nenhuma. No aniversário da Casa do Benfica de Vendas Novas, Artur emocionou a plateia, fez chorar a maioria com exemplos de vida e de benfiquismo. O vice-presidente para as Casas, Domingos Almeida Lima, Juan Bernabé e eu ouvimo-lo incapazes de suster a comoção. Evocando os adversários, destacou as diferenças para definir o que é ser do SLB. E naquela tarde ficou claro o que é Ser Benfiquista... Ser Benfiquista é ter crescido com símbolos da grandeza de Artur Correia, homens que respeitavam o Clube, o emblema, a bandeira, a história, o País e os Portugueses.
Homens que serviram o Benfica sem se servir dele. Aos 29 anos, quando ainda tinha muito para oferecer ao futebol português, ele que era um dos melhores laterais-direitos da Europa, viu a sua carreira bruscamente terminada. Era um jogador incansável, que corria durante 90 minutos sem mostrar quebras de rendimento. Ninguém apostaria num fim tão antecipado por causa de um acidente cardio-vascular-cerebral. O comum dos mortais ter-se-ia curvado aos sinais do destino, ter-se-ia fechado e provavelmente definhado com o passar dos anos. Mas Artur Manuel Soares Correia ainda hoje não é comum, felizmente para ele e para o Clube onde escreveu as mais importantes páginas de glória. Foi vencendo as adversidades, ganhando batalha após batalha e hoje consegue passar a mensagem triunfal de quem alcançou o impensável. O infortúnio só o fez dar mais valor aos princípios e às pessoas que nunca o abandonaram e à instituição que o apoia. Até nisso este Clube é diferente. Fez-se grande com jogadores como Artur Correia e agora retribui, dando-lhe o que merecem.
Ser Benfiquista é ter heróis como tu, Artur."

Ricardo Palacin, in O Benfica