domingo, 19 de dezembro de 2010

Ansiedade

"A equipa de futebol do Benfica e, por contágio, os adeptos benfiquistas, têm vivido esta época momentos da maior ansiedade. As coisas não têm corrido sobre rodas, como no ano passado. Na Europa, o Benfica deixou cair as expectativas, no campeonato caseiro exibições e pontuação estão aquém do que todos esperávamos. Há rumores de quezílias no balneário. E o bombardeamento das parangonas nesse sentido é de tal intensidade que não permite suficiente discernimento para avaliar, com clareza, a situação. Por tudo isso, era muito importante que o Benfica seguisse em frente na Taça de Portugal. E seguiu.
A ansiedade é um estado emocional, com origens e reacções psicológicas ou físicas, que constitui uma reacção normal dos indivíduos e grupos a determinadas situações. Neste caso, é evidente que os sintomas de ansiedade se sucedem a alguma frustração pelas exibições e resultados do campeão nacional depois de uma época retumbante. O que aconteceu é que a ansiedade potencia mais ansiedade, até se transformar numa perturbação persistente e obsessiva. Daí a importância de travar o avanço dos sintomas. A vitória clara na eliminatória da Taça foi um oportuno antídoto. Importa agora seguir com a terapia, digamos assim.
E como? A equipa precisa de nós, os benfiquistas, como nós precisamos da equipa, para ultrapassar a ansiedade. Temos que exigir à equipa que corresponda ao apoio que lhe damos. Tal como a equipa nos deve exigir o apoio de adeptos incondicionais. Quem começa? Nós, enchendo os estádios e puxando pela equipa. A equipa é a do Benfica, um plantel de jogadores com merecimento e lealdade para vestir aquela camisola e usar sobre o coração aquele emblema."

João Paulo Guerra, in O Benfica

Olhar (ou não) para o chão...

"1. Domingos Paciência, que o no Estádio do FC Porto costuma olhar para o chão quando os jogadores da casa cometem qualquer acção que possa conduzir à expulsão, insinuou, no final do jogo de domingo, que um ou dois jogadores do Benfica deveriam ter visto segundo amarelo, 'esquecendo-se' do vermelho directo que faltou ao seu defesa Sílvio.
Caso (este Sílvio) que não foi (estranhamente, ou talvez não...) considerado entre aqueles que os três habituais árbitros do jornal 'O Jogo' apreciaram. De entre estes, e como sempre, Jorge Coroado distingue-se pela sua 'azia' ao Benfica, que só é ultrapassada pelo ódio de estimação relativamente a alguns antigos companheiros...
2. Alguns jogadores do Benfica receberam cartões amarelos desnecessários (ia dizer estúpidos). Não vale a pena reclamar decisões do árbitro, por muito erradas que sejam. E há que ter cuidado com as provocações dos adversários (o Braga é especialista...) e não cair nelas. São cartões que se vão somando e a dada altura dão suspensão... escusadas.
3. Quando preciso de equipamento desportivo, compro Adidas, tal como bebo Sagres de preferência, mudei para a Meo e ponho gasolina na Repsol. Mas sou incapaz de comprar um equipamento do Benfica que não seja vermelho e branco, 'à Benfica'. Por isso, comecei logo a perder o jogo frente ao Schalke da passada semana quando o Benfica (que não tinha que mudar de equipamento por jogar em casa) se apresentou com umas cores que nada têm que ver com o Clube, num novo equipamento 'alternativo' do 'alternativo'. Por vezes, até tive dificuldade em reconhecer os jogadores. O Benfica é vermelho e branco!
4. Os atletas do Benfica estiveram muito bem no Europeu de Corta-Mato. O júnior Rui Pinto subiu ao pódio (3.º) e continuará neste escalão no próximo ano, podendo então aspirar a voos ainda mais altos. Ele e ainda Emanuel Rolim (21.º) e Nuno Santos (26.º) formaram três-quartos da selecção que ganhou a medalha de prata colectiva. E Marisa Barros, especialista da maratona, surpreendeu ao ser brilhante sexta classificada na sua estreia internacional na especialidade, dando forte contributo para o título colectivo da selecção. As perspectivas são animadoras mas, quanto aos Juniores, é bom recordar que o mais importante é chegarem a Seniores ao mais alto nível."

Arons de Carvalho, in O Benfica

O silêncio

"Esta semana, Sousa Tavares escreveu na sua crónica que Jorge Araújo foi um “treinador de basquetebol, que deu ao Benfica vários títulos nacionais, antes de rumar ao FC Porto”. Como é evidente, Jorge Araújo nunca treinou o Benfica, não cumprindo assim um dos requisitos necessários para se vencer vários títulos por esse clube. Sousa Tavares escreveu isto, mas - salvo uma única exceção (cuidadinho, Leonor!) - ninguém o desmentiu.

Esta semana, Sousa Tavares escreveu também: “Insisto: o futebol é um jogo simples de entender. Basta um mínimo de conhecimento do assunto e um mínimo de experiência de observação para distinguir um bom jogador dum mau jogador.” No entanto, a 9 de março não era “preciso ser nenhuma luminária para perceber que o Belluschi tem pose de pavão mas a eficácia em voo de uma avestruz”, e até que o jogador é “uma fonte de despesas e frustrações sem fim”; e, a 30 de novembro, já era um dos “bons jogadores” do plantel portista, e o único “médio de ataque à altura das necessidades”. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o confrontou.

Esta semana, Sousa Tavares escreveu ainda, referindo-se ao jogo contra o Setúbal, que “o FC Porto ganhou, de facto, com um penálti que não terá existido, mas só ganhou porque o Vitória, que dispôs da mesma oferta, a desperdiçou e o FC Porto não”. Posta a questão nestes termos, há quase, no desfecho da partida, um sabor a justiça, e quase nos esquecemos que justo, mas mesmo justo, seria que nenhum dos penáltis tivesse sido assinalado e o jogo acabasse 0-0. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o desmascarou. Assim é que é bonito."

Incumprimentos

"1 - Esta é a primeira época em que o incumprimento salarial a jogadores pode ter consequências desportivas sérias na Liga: perda de pontos. Está em vigor uma infração disciplinar que se junta ao impedimento de registo e renovação de contratos de jogadores. Uma inovação do “consulado” de Hermínio Loureiro, nascida numa das assembleias gerais “buliçosas” de que foram vítimas os órgãos da Liga desse mandato. Era, aliás, um dos objetivos de Loureiro: credibilizar as competições da Liga em razão da (tantas vezes alegada) concorrência desleal entre os clubes cumpridores e os clubes incumpridores. Claro que não foi nem é uma reforma fácil; antes é uma medida delicada, atentatória do status quo, mas reclamada pela transparência e tutela da igualdade entre os competidores. Melhor ou pior, assim se fez. Como?

1.º Os clubes, até 15 de dezembro, estão obrigados a demonstrar que têm os salários regularizados – os vencidos entre 31 de maio e 10 de novembro de cada ano; se dessas declarações – ou da falta delas – resultar que o clube está atrasado em 60 dias (ou mais) no pagamento dos salários, a Comissão Executiva (CE) “avisa” o clube para cumprir no prazo de 15 dias. 2.º Ao longo de toda a época, qualquer jogador ou clube pode queixar-se à Liga sobre o “atraso” igual ou superior a 60 dias no pagamento; a CE notifica o clube para comprovar (também) no prazo de 15 dias que pagou ou, pelo menos, que o atraso é inferior a 60 dias. Se os clubes não demonstrarem o cumprimento nesse prazo de 15 dias, a CE comunica à Comissão Disciplinar (CD) e esta instaurará o devido processo disciplinar pela “infração salarial”. Consequência: subtração de 3 pontos na tabela. E “bulício” na Liga.

2 - Enquanto isso, fomos percebendo que, a partir desta época, a suspensão de um treinador pouco ou nada significa. Uma vez castigado em tempo (dias ou meses) – e não em jogos –, um treinador suspenso pela Liga continua como se nada fosse: intervém publicamente em conferências de imprensa; comunica à vista de quem quer ver com o banco como se lá estivesse durante o jogo do “castigo”. Não julgo que seja este o caminho que deriva da leitura correta da letra e do espírito do Regulamento Disciplinar da Liga: os treinadores, durante o tempo do castigo, ficam inabilitados para, diz a “lei”, “o desempenho das funções decorrentes dos regulamentos desportivos na qualidade em que foram punidos”. Entre essas funções (expressas em direitos e deveres) estão naturalmente o exercício da direção técnica nos jogos, a participação em conferências antes e depois dos jogos, assim como o dever de participar na “flash interview”. Se desempenham algumas destas funções, ou contornam grosseiramente a inibição, estarão a violar o castigo. E sujeitam-se a outro – por “não acatamento”. De facto, estão a desafiar a autoridade da Liga. Para o evitar, necessário se torna delegados da Liga instruídos sobre a sua competência para fazer cumprir os regulamentos e as deliberações da Liga; e uma CD… atuante. Mas isso será com certeza incómodo demasiado para a Liga do “presidente pago”..."

Ricardo Costa, in Record