sábado, 20 de novembro de 2010
Mais mentiras
"É de uma assinalável humildade a teoria expressa por André Villas-Boas segundo a qual o FC Porto podia ter sido campeão na época passada, se o Hulk não tivesse sido castigado. Está-lhe subjacente a ideia de que, como treinador, ele não veio acrescentar nada ao FC Porto do ano passado, e ao rendimento do Hulk em particular, que não estivesse já lá, na era Jesualdo. Tem andado, portanto, a folgar, o André. Só não se percebe, então, tanto elogio ao seu trabalho. Mas não me interpretem mal: pessoalmente, também tinha curiosidade em ver o Hulk de 2010/11 a jogar na época 2009/10. Trazia um toque de ficção científica ao campeonato português.
Mas há sobretudo uma nota de fantasia e sonho nesta teoria do jovem treinador. É possível até que Villas-Boas tenha tanta perspicácia na análise de tabelas classificativas como na observação de lances polémicos dentro da grande área adversária. Analisemos os factos, esses desmancha-prazeres: fazendo as contas – e tendo em mente que, antes de Hulk ser castigado, o Benfica levava uma vantagem de quatro pontos em relação ao FC Porto e que, a partir daí até ao final, só perdeu cinco pontos (empate em Setúbal e derrota nas Antas) –, seria necessário que o FC Porto vencesse todas as partidas – repito, todas as partidas – da segunda volta do campeonato para que se pudesse sagrar campeão nacional.
Ora, hoje em dia, toda a gente concorda que o FC Porto está a fazer uma época excecional e nem assim conseguiu esse feito: em 11 jornadas já têm um empate. Ou seja, a modéstia de Villas-Boas é ainda maior do que supunha: na verdade, o treinador assume, sem assombros, que o FC Porto de Jesualdo, não fosse o castigo de Hulk, poderia ter sido bem superior ao seu. Quem diz que não há fair play no FC Porto?"
Mas há sobretudo uma nota de fantasia e sonho nesta teoria do jovem treinador. É possível até que Villas-Boas tenha tanta perspicácia na análise de tabelas classificativas como na observação de lances polémicos dentro da grande área adversária. Analisemos os factos, esses desmancha-prazeres: fazendo as contas – e tendo em mente que, antes de Hulk ser castigado, o Benfica levava uma vantagem de quatro pontos em relação ao FC Porto e que, a partir daí até ao final, só perdeu cinco pontos (empate em Setúbal e derrota nas Antas) –, seria necessário que o FC Porto vencesse todas as partidas – repito, todas as partidas – da segunda volta do campeonato para que se pudesse sagrar campeão nacional.
Ora, hoje em dia, toda a gente concorda que o FC Porto está a fazer uma época excecional e nem assim conseguiu esse feito: em 11 jornadas já têm um empate. Ou seja, a modéstia de Villas-Boas é ainda maior do que supunha: na verdade, o treinador assume, sem assombros, que o FC Porto de Jesualdo, não fosse o castigo de Hulk, poderia ter sido bem superior ao seu. Quem diz que não há fair play no FC Porto?"
Miguel Góis, in Record
PS: Mais uma vez, para manter a consistência, num fim-de-semana onde o Benfica nem sequer joga, o Billas voltou a falar do Benfica!!! É trauma, só pode...
Nuno Gomes
"O desenvolvimento do futebol enquanto negócio de milhões foi fazendo rarear os exemplos de jogadores ligados a um clube durante mais do que uma década ou até por uma carreira inteira. A mistura de atleta com símbolo passou a ser menos evidente, quer queiramos quer não. É uma pena, dirão os apaixonados, é um sinal dos tempos, dirão os empresários e dirigentes desportivos. Esta mudança de ciclos, faz com que jogadores como Mantorras e Nuno Gomes sejam hoje tão respeitados pela massa associativa. O angolano levantou o Estádio da Luz sempre que saltou para o aquecimento para posteriormente entrar em jogo. Invariavelmente, fez explodir de alegria os milhares ao pisar o relvado e, mais ainda, ao marcar um golo. Houve poucos como ele, nunca o esqueceremos. Jamais deixaremos de te lembrar, Pedro.
Nuno Gomes regista igual marca de popularidade, provoca emoções idênticas, ao mesmo tempo que continua a figurar na lista do onze ideal de muitos benfiquistas. 179 golos e 85 vezes capitão em 10 épocas, eficaz, altruísta no terreno e perfeito conhecedor da mística do SLB e da sua importância nos panoramas nacional e internacional. Por isso, cá vai, Nuno: és grande, quando jogas e quando não jogas, para mim enquanto adepto e sócio continuas a ser o melhor pivô atacante português, és quem melhor constrói oportunidades e quem melhor faz jogar junto às balizas adversárias. Contigo, ao futebol nacional não faltam 20 metros, nem dez, nem cinco, contigo não falta nada ao espectáculo, à satisfação do público e à presença, deste grande clube nas competições que orgulhosamente disputa. Contigo, a emoção não arreda pé do relvado. As pessoas vêm aos estádios para te ver, para gritar o teu nome, para se sentirem bem representadas em campo, para terem a certeza de que são correctamente defendidas durante a hora e meia de jogo. É por causa de jogadores como tu que o «pontapé na bola» ainda é um desporto capaz de fazer esquecer os objectivos comerciais do tal negócio de milhões.
Respeitamos-te, estamos contigo hoje e sempre, alinhes de início ou nem sequer jogues."
Ricardo Palacin, in O Benfica
Mantorras: símbolo e mártir
"“Deixem jogar o Mantorras” – um grito de revolta e desespero que foi um misto de antevisão/ premonição do que ocorreria na época seguinte. Estávamos a 16 de Agosto de 2001, após um jogo (houve?) na Póvoa de Varzim. De nada serviu. Perante a complacência dos árbitros – que foram cúmplices do que aconteceu – os adversários só conseguiam pará-lo recorrendo à falta. Lembro- me de num Benfica - FC Porto, na Tribuna de Imprensa do anterior Estádio da Luz, indignar-me perante as entradas sucessivas dos portistas sobre Mantorras, ao que um “sr. jornalista” jocosamente atirou: “É preto... aguenta tudo!” Só que não aguentou. Também os media foram coniventes – porque branquearam - com o jogo violento de alguns adversários, sobre Mantorras, quando este envergava o “Manto Sagrado”.
Tinha tudo, mas mesmo tudo, para ser um dos melhores avançados do mundo. Ficou-se pelo desejo. Ficou à beira da glória suprema, próximo da honra superior e de se guindar ao topo dos melhores futebolistas do mundo. Não lhe permitiram singrar no futebol. Jogava muito... pelo “Glorioso”. “Sarrafaram-no” sem dó nem piedade. Tantas e tantas agressões. Fizeram-no sofrer. Tanta impunidade. Mantorras foi uma das vítimas da agressividade dos adversários para com os nossos futebolistas, em particular os avançados. Generoso nunca parava. Ingénuo nunca simulava, nem se protegia. Avançava, mesmo quando, cobardemente, surgiam pelas costas para o derrubar.
Foste uma vítima do “Futeluso”. És o mártir deste futebol português “rasca”. Ficas como símbolo deste futebol anti-Benfica!"
Tinha tudo, mas mesmo tudo, para ser um dos melhores avançados do mundo. Ficou-se pelo desejo. Ficou à beira da glória suprema, próximo da honra superior e de se guindar ao topo dos melhores futebolistas do mundo. Não lhe permitiram singrar no futebol. Jogava muito... pelo “Glorioso”. “Sarrafaram-no” sem dó nem piedade. Tantas e tantas agressões. Fizeram-no sofrer. Tanta impunidade. Mantorras foi uma das vítimas da agressividade dos adversários para com os nossos futebolistas, em particular os avançados. Generoso nunca parava. Ingénuo nunca simulava, nem se protegia. Avançava, mesmo quando, cobardemente, surgiam pelas costas para o derrubar.
Foste uma vítima do “Futeluso”. És o mártir deste futebol português “rasca”. Ficas como símbolo deste futebol anti-Benfica!"
Alberto Miguéns, in O Benfica
Os "senadores" do futuro
"As recentes declarações públicas de Vítor Baía e o “regresso” de Nuno Gomes fazem-nos refletir sobre o valor do jogador na estruturação próxima do nosso futebol. Pelo menos este tipo de jogador, de uma geração de futebolistas com outra formação, outra noção da “responsabilidade social”, outro mundo e, em alguns casos, com independência económica suficiente para se desprender do futebol estritamente jogado (como treinador, por exemplo). Uma geração capaz de, uma vez acompanhada por profissionais competentes, aproveitar carisma e prestígio para conferir dimensão e conhecimento a muitos gabinetes. Figo, Rui Costa, Fernando Couto e Costinha estão a fazer o seu caminho e a aprender. Como, noutro nível, estão Carlos Carneiro (no Paços de Ferreira) e Pedro Roma (na Académica). Como voltarão a estar, com mais acerto, Paulo Sousa, Pedro Barbosa e Sá Pinto. É possível ver um “movimento” destes “senadores”, que caracterizará o futebol dos próximos 25 anos e o afastará da “cultura” dominante dos últimos 25 anos. O mesmo “movimento” que, entre outros, fez de Beckenbauer e Rummenigge o que conseguiram ser depois do relvado.
Vítor Baía terá, mais cedo ou mais tarde, “um futuro” substancial no clube do coração, onde tem um estatuto inigualável, depois de invariavelmente considerado e valorizado, anos a fio, nos escritórios das Antas. Além de idolatrado pelos adeptos. Percebemos que almeja voltar ao local onde foi feliz, para outras funções e para um outro aproveitamento da sua figura. Deverá continuar a adquirir ferramentas e mais-valias e a concitar apoios de sectores vitais para o crescimento do FC Porto. E regressará numa outra fase – um destino inelutável para quem sente e simboliza (em títulos) o clube como ninguém.
Quando se vê agora a discussão sobre o afastamento de Nuno Gomes das escolhas de Jorge Jesus vem-me sempre à cabeça a longevidade dos jogadores que alinham em Itália – não só italianos: ainda hoje ver a classe madura de Seedorf a progredir nas transições e as correrias sincopadas de Zanetti é motivo para nos perguntarmos sobre a valia dos “limites etários” que o futebol engendrou. Não são repetíveis por si só noutras latitudes e noutros atletas. Há 15 anos, quando estudei em Itália, o fenómeno era essencialmente o mesmo. Ver então Del Piero, o exemplo de um jogador “amarrado” à cultura de um clube, a despontar como um fora-de-série e vê-lo agora na Juventus é (apenas) uma outra confirmação. Prognosticar hoje o devir de Del Piero diz-nos que, em vez de querer tirar de Nuno Gomes mais do que ainda tem de útil para dar no campo (como Figo deu no Inter de Mourinho), interessa vislumbrar o futuro de Nuno Gomes fora do campo.
Talvez por essa altura seja já o tempo de Vítor Baía. Um tempo, desde logo, em que os dirigentes não comuniquem por intermédio de um dicionário desconhecido da língua portuguesa. Um tempo onde se respire melhor no futebol, com o respeito próprio de quem passou muitas horas a partilhar relvados, balneários e estágios. A partilhar o jogo e as ideias. A partilhar toda uma vida."
Vítor Baía terá, mais cedo ou mais tarde, “um futuro” substancial no clube do coração, onde tem um estatuto inigualável, depois de invariavelmente considerado e valorizado, anos a fio, nos escritórios das Antas. Além de idolatrado pelos adeptos. Percebemos que almeja voltar ao local onde foi feliz, para outras funções e para um outro aproveitamento da sua figura. Deverá continuar a adquirir ferramentas e mais-valias e a concitar apoios de sectores vitais para o crescimento do FC Porto. E regressará numa outra fase – um destino inelutável para quem sente e simboliza (em títulos) o clube como ninguém.
Quando se vê agora a discussão sobre o afastamento de Nuno Gomes das escolhas de Jorge Jesus vem-me sempre à cabeça a longevidade dos jogadores que alinham em Itália – não só italianos: ainda hoje ver a classe madura de Seedorf a progredir nas transições e as correrias sincopadas de Zanetti é motivo para nos perguntarmos sobre a valia dos “limites etários” que o futebol engendrou. Não são repetíveis por si só noutras latitudes e noutros atletas. Há 15 anos, quando estudei em Itália, o fenómeno era essencialmente o mesmo. Ver então Del Piero, o exemplo de um jogador “amarrado” à cultura de um clube, a despontar como um fora-de-série e vê-lo agora na Juventus é (apenas) uma outra confirmação. Prognosticar hoje o devir de Del Piero diz-nos que, em vez de querer tirar de Nuno Gomes mais do que ainda tem de útil para dar no campo (como Figo deu no Inter de Mourinho), interessa vislumbrar o futuro de Nuno Gomes fora do campo.
Talvez por essa altura seja já o tempo de Vítor Baía. Um tempo, desde logo, em que os dirigentes não comuniquem por intermédio de um dicionário desconhecido da língua portuguesa. Um tempo onde se respire melhor no futebol, com o respeito próprio de quem passou muitas horas a partilhar relvados, balneários e estágios. A partilhar o jogo e as ideias. A partilhar toda uma vida."
Ricardo Costa, in Record