quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Levar 5 acontece aos melhores do mundo

"A última jornada foi particularmente feliz para dois avançados trintões. Nuno Gomes precisou apenas de dois minutos e meio no relvado do Estádio da Luz para marcar um golo à Naval 1º de Maio e fornecer, aos adeptos da casa, o mais do que necessário cuidado paliativo emocional depois do estrondoso insucesso no porto.
E, em Vila de Conde, João Tomás marcou por duas vezes, desta feita ao Paços de Ferreira, e é hoje o segundo classificado da lista dos goleadores de 2010/2011, com 7 golos. Melhor do que João Tomás, só Hulk. Pior do que ele, os outros todos…
Ao contrário de Nuno Gomes, que cumpre este ano a sua décima primeira época na Luz, e que é hoje uma referência para o interior e para o exterior do clube, João Tomás já deixou o Benfica há dez anos.
Dele apenas restam aquelas memórias já turvas da imensamente eficaz dupla que fez com Pierre Van Hooidjonk – e que foi lamentavelmente desmantelada por questões políticas – e daqueles dois bonitos golos que marcou numa noite ao Sporting levando o Estádio da Luz au rubro e levando também o jovem e inexperiente treinador do Benfica, José Mourinho, a ajoelhar-se na relva de tão contente que ficou.
Há acontecimentos assim. O golo de Nuno Gomes, no domingo, foi também um acontecimento e dos bons. Os benfiquistas, que tinham entrado no estádio ainda vagamente acabrunhados por causa daquela coisa da jornada anterior, saíram sorridentes e comovidos com a pontaria e com a comoção do seu número 21.
Como seria de esperar, o golo de Nuno Gomes lançou uma polémica sobre as opções de Jorge Jesus para a frente de ataque do Benfica. A esta polémica, naturalmente, não é de todo alheio o facto de o Benfica estar a 10 pontos do FC Porto. Na época passada, Nuno Gomes marcou três golos – um deles bem importante, em Olhão – e nenhum desses feitos levou a um debate nacional sobre a injustiça com que o treinador do Benfica trata o seu avançado mais velho e com mais anos de casa.
É tão natural quanto respeitável o desejo de Nuno Gomes de jogar mais vezes de modo a que os seus golos não sejam olhados como acontecimentos mas como… golos, precisamente o que acontece com João Tomás que é utilizado com regularidade e proveito por todos os clubes em que passa.
Nuno Gomes saberá melhor do que ninguém o momento em que há-de colocar um ponto final na sua carreira de futebolista. E como é uma pessoa de bom senso vai saber fazê-lo bem, a tempo e com grande categoria.
E, por isso mesmo, saberá evitar certamente deixar-se transformar num caso, numa espécie de novo Mantorras, na vertente de milagreiro místico e de entertainer de ocasião para multidões ávidas de alegrias.

ESTÁ disponível no Youtube um momento muito especial para o Benfica ocorrido no último treino da selecção do Brasil antes do jogo com a Argentina, nas Arábias. É fácil chegar lá. Basta procurar David Luiz humilha Ronaldinho para vermos o nosso defesa central, que saiu psicologicamente tão maltratado do jogo com o FC Porto, recuperar a mais do que desejada auto-estima aplicando, num só toque, um requintado túnel ao grande Ronaldinho Gaúcho em boa hora regressado ao escrete.
Em boa hora para o Benfica, evidentemente.
David Luiz, que o Chelsea quer levar já em Janeiro, segundo se lê nos jornais, bem precisava de um golpe de asa assim para de poder recompor emocionalmente do mau sucesso do Estádio do Dragão. É que fazer a bola passar entre as pernas do grande Ronaldiho Gaúcho, mesmo que num treino, a brincar, é um precioso alento para quem teve de ouvir tantos remoques sobre a sua prestação no último clássico do pequeno futebol português.
Ainda para mais quando Ronaldinho Gaúcho não desiste de ocupar na selecção brasileira o lugar que, lendo a imprensa e os especialistas nacionais, deveria ser entregue a Hulk, o que é incrível.

JESUALDO FERREIRA parece estar encaminhado para ser o próximo treinador do Panathinaikos da Grécia depois de não lhe ter corrido bem – ainda que tenha corrido bem depressa – a passagem pela Liga espanhola.
É um grande mistério este que envolve os treinadores portugueses – e logo os melhores - que não conseguem firmar no país do lado os créditos que somaram em casa.
Excepção feita a José Mourinho, obviamente. E é por isso mesmo que lhe chamam O Especial, porque é diferente dos outros todos. Mourinho, é verdade, ainda não ganhou um troféu no comando do Real Madrid mas, é a convicção planetária, há-de ganhar. Para já, ganhou a admiração de Chamartín, uma casa exigente, o respeito da imprensa, uma imprensa musculada, e o desamor dos rivais, que é exactamente o mesmo em todos os cantos do mundo.
José Mourinho foi o quinto treinador português, campeão em Portugal, a chegar a Espanha com um currículo mais avantajado do que o que tinha quando lá aterrou.
E os outros? O que se passou com os outros treinadores portugueses, todos eles campeões, que chegaram a Espanha e de lá partiram num ápice. Toni, campeão pelo Benfica, não resistiu em Sevilha muitas semanas. Jaime Pacheco, que foi campeão pelo Boavista, e António Oliveira, que foi campeão pelo FC Porto, passaram fugazmente pelo Maiorca e pelo Bétis sem nada acrescentar aos historiais dos respectivos clubes, E, por fim, Jesualdo Ferreira, três vezes campeão pelo FC Porto, não resistiu em Málaga a mais do que meia dúzia de jornadas do campeonato espanhol.
Será do clima? Do clima da Andaluzia – Sevilha e Málaga – e das ilhas Baleares – Maiorca – que é adverso aos treinadores portugueses?
Este é um mistério que ainda está longe de ser resolvido. De qualquer maneira, para os mais cépticos em relação aos talentos de José Mourinho, fica no ar aquela dúvida metódica sobre o actual treinador do Real Madrid:
-Pois…pois… mas não me convence enquanto não o vir fazer do Ayamonte FC campeão de Espanha!

PORTUGAL ganhou por 4-0 à Espanha que é a campeã do mundo. Devia ter ganho por 5-0 porque Cristiano Ronaldo marcou um golo lindo e limpo que o parvinho do árbitro entendeu anular. Quando joga a selecção e os árbitros são estrangeiros e maus, é um privilégio poder chamar-lhes parvinhos sem que ninguém por cá se ofenda. São as virtudes do internacionalismo.
Os espanhóis com um árbitro a sério tinham levado 5. Fica provado que levar 5 acontece aos melhores do mundo."

Leonor Pinhão in A Bola

Nuno Ribeiro (Gomes)

"Nuno Ribeiro acabara de entrar para jogar os últimos minutos do Benfica-Naval. Quis o destino ( a sua capacidade) que marcasse o 4º golo encarnado e o 200º da Liga. Seguiu-se um momento humanamente muito rico e denso que escasseia no futebol. O jogador emocionado olha para os céus iluminados para a Luz (no duplo sentido) e reencontra-se com o seu Pai num misto de sentimentos que os seus olhos lacrimejantes expressaram: gratidão, ternura e felicidade. Mas ao mesmo tempo, com a dor da saudade e toda a carga emotiva do que ela significa: a presença da ausência.
Também fiquei enternecido e feliz. Emocionado, mesmo. Escrevi Nuno Ribeiro, seu nome de família e não Nuno Gomes, seu nome futebolístico. Porque naquele momento foi mais o primeiro que o segundo. Ou melhor dizendo, os dois, numa simbiose perfeita entre filho e o profissional. Entre o homem atleta e o atleta homem.
Nuno Gomes é merecedor do reconhecimento dos benfiquistas. Vai na sua 11.ª época, dignificando a camisola encarnada, coisa rara onde a norma é os clubes serem placas giratórias monetárias pouco dadas a afeições de coração.
Nuno Gomes está perto de terminar uma carreira imaculada. No fim, descontadas as nossas (e dele) naturais lamurias por um qualquer golo falhado, fica o profissional exemplar, dedicado, persistente, eficiente, simples, com sentido ético. A ele devem os benfiquistas momentos de exultação e de magia.
Nuno Gomes merece estar entre os grandes atletas que viveram no Benfica e pelo Benfica. Não se limitaram a passar por ele, qual cometa fugidio. Tem sido uma estrela que simboliza o melhor do Benfica. Pela minha parte, o meu obrigado ao Nuno Gomes e sentido abraço ao Nuno Miguel Ribeiro!"

Bagão Félix, in A Bola

Meter-se no futebol

"Há três actividades em que todos se metem: no futebol, na política e na economia. Nestas últimas, até o Governo repetiu à saciedade que meteu as contas públicas em ordem. Como, aliás se mete pelos olhos dentro...
Concentrando-se no futebol, o que mais conta é meter golos! Metidos com a cabeça, os pés ou mesmo a mão (do Vata).
Mas tirando os golos, mete-se pelos olhos da cara que quase tudo o resto não é tão entusiasmante. Vemos, amiúde, meter-se a foice em seara alheia ou meter-se a colherada fora de contexto. A começar por muita gente que por lá anda metida. Uns metem o bico, outros até metem o bedelho onde não são chamados, o que por vezes leva a que tenham de meter a viola no saco.
Há, também, quem queira meter o Rossio na Betesga ou meter-se em cavalarias altas ou quem, por dá cá aquela palha, projecte meter uma lança em África e acabe por meter-se na boca do lobo.
No chamado sistema há de tudo: os que se metem em sarilhos por meter a mão no fogo por quem meteu a mão no bolso de alguém. Os que são metidos no chinelo só porque se quiserem meter em brios. Os desiludidos que, depois de terem metido mãos à obra, se metem na concha porque lhes meteram na cabeça que nada há a fazer. E, ainda, os metediços que se metem por atalhos para se meter em negócios acabando por meter o dinheiro em paraísos fiscais.
Há quem nos queira meter em dúvida que meter a mão na bola e meter a bola na mão são coisas iguais ou diferentes consoante quem meteu na ordem o árbitro. E este depois de ter metido água, mete os pés pelas mãos, para explicar que ninguém lhe meteu uma cunha.
Meter a mão na consciência é que deixou de ser a norma."

Bagão Félix, in A Bola

Amor à camisola

"Domingo, assisti da bancada à sessão de terapia que o Naval proporcionou ao Benfica. Um pacote daqueles é que dava jeito às nossas finanças tremidas. Se fosse um livro de bomba de gasolina, a coisa podia chamar-se “Como Recuperar O Amor Próprio Em Quatro Passos”, ou “Plano Infalível Para O Dia Seguinte”. De facto, ganhar por 4-0 dá moral ao mais tristonho dos craques, ao mais depressivo dos treinadores de bancada. (Perdoem-me o parêntesis de humor negro, mas melhor que 4-0, só mesmo 5-0…) E, no entanto, como sabemos, muitas vezes os números são enganadores. A verdade é que, se a partida dominical teve grandes jogadas e belos golos, também houve momentos de forte “instabilidade”, para usar o palavrão que está na ordem do dia. Há muita arte no ataque, mas falta ciência na defesa. Há jogadores que fazem a diferença, mas às vezes parece faltar uma equipa “mais igual”. Há Aimar e mais dez – e infelizmente não são dez Ramires…
Mas falemos de coisas boas. Sálvio conduz a bola redonda de esperanças; corre com bom espírito, dá para perceber; mal os defesas lhe aparecem no caminho, o miúdo argentino toca para o craque mundial; Aimar, o nosso Mágico Maestro, inventa um país livre entre os adversários e chuta; o guarda-redes lá consegue defender, mas a bola sobra para um espaço em branco no tapete verde da Catedral; Nico Gáitan vem a correr desde a Argentina e, no pé esquerdo, traz um único pensamento. Remata com a parte de fora da bota, a bola rodando para cima e para longe das luvas esticadas do guardião azulinho – o futuro chega em forma de golo, e que golaço. Para exorcizar fantasmas, para lavar a alma, gritem comigo, por favor: Nico! Nico! Nico! Gaitán! Gaitán!
Mas Nuno Gomes também merece uma palavra. Ao contrário da maioria das gentes benquistas, não sou, confesso, um incondicional do avançado português. Mas o golo que Nuno Gomes conseguiu desembrulhar contra a Naval – um golo todo feito de crença, num momento difícil para o clube e para ele próprio – vale muitíssimo. Golos assim dão o exemplo e fazem-nos acreditar que o amor à camisola não morreu, não há-de morrer nunca. Mais: o país inteiro precisa de exemplos destes, da economia à política, da cultura ao futebol, individualmente e colectivamente. Acreditar, acreditar. Corações vivos de olhos abertos. Palavras fortes e gestos claros. Vamos a isto?"
Jacinto Lucas Pires, in JN