À espera de uma vitória honesta


"Estragon Moreira sentado no chão, tenta descalçar uma bota. Não consegue. Tenta outra vez, sem sucesso. Desiste.

EM - Nada a fazer.

Entra Vladimir Sousa Tavares.

VST - O meu amiguinho, como é que está? Quero dar-te os parabéns, pá. Foi preciso muita coragem para fugir do Trio s'Ataque, não te deixaste intimidar pelo Vasconcelos.

EM - Claro que não. Só me deixo intimidar pelos Super Dragões.

VST - Fizeste bem em pisgar-te. Nós não comentamos escutas.

EM - Nunca!

VST - Era só o que faltava!

EM - Não compactuamos com ilegalidades.

VST - E as escutas são ilegais.

EM - Escutas? Quais escutas? Não sei de escutas nenhumas!

VST - Ah, ah, ah! É isso mesmo!

Silêncio.

EM(embaraçado) - Eu já as ouvi.

VST - A sério?

EM - Foi sem querer. Fui ao Youtube procurar uma música da Lady Gaga e quando dei por mim estava a ouvir o Pinto da Costa e o António Araújo a combinarem entregar fruta ao Jacinto Paixão. Fiquei com algumas dúvidas, sabes...

VST - Ó! Por causa de uma frutinha? É uma simpatia. Para proteger o árbitro do escorbuto.

EM - Mas o António Araújo chama-lhe fruta para dormir.

VST - Óbvio! Depois do exercício, o corpo está cheio de adrenalina e custa a adormecer. Antes de me deitar como sempre um Kiwi.

EM - Então não achas que fruta é código para prostitutas?

VST - Claro que não! Conheces alguém que se refira a pessoas como frutas? É absurdo!

EM - Por acaso ainda na minha última crónica chamei melancia ao Quintela...

VST - Apre, Rui! Pareces os nossos adversários! Preferem interpretar uma conversa sobre entregas de fruta a árbitros como corrupção, em vez de a interpretarem como o que é: uma conversa banal sobre bem-estar dos árbitros. Há coisa mais natural do que um presidente de clube preocupar-se com a saúde de um árbitro? Ele até ofereceu uma viagem ao Calheiros, para descansar!

EM - Sim, tens razão. Mas é que...

VST - Ouviste mais, foi?

EM - A ida do Augusto Duarte a casa do Pinto da Costa...

VST - Essa foi explicada: o Augusto Duarte tinha urgência em pedir ao Pinto da Costa para interceder junto do seu pai, para que largasse a amante que tinha em Lisboa. Normalíssimo.

EM - Pelas conversas o Augusto Duarte não tem urgência nenhuma. Nem é ele que quer ir. Até prefere ir ver o seu Braguinha. E trata o Pinto da Costa por «chefe de caixa».

VST - Que é uma expressão carinhosa entre amigos. Nunca ouviste dizer és um chefe de caixa do carago?

EM - Pois. Mas é esquisito: dias depois ele ia apitar o Beira-Mar - Porto.

VST - Que já não contava para nada! já éramos campeões!

EM - Não, ainda não éramos.

VST - Mas tínhamos uma equipa fabulosa, que ia ser campeã europeia. O Baía...

EM - Por acaso dessa vez jogou o Nuno.

VST - O Paulo Ferreira, que vendemos por 20 milhões!

EM - Nesse jogo alinhou o Secretário.

VST - O Deco!

EM - Não, jogou o Ricardo Fernandes.

VST - McCarthy?

EM - Maciel.

VST - Não interessa. Não houve roubalheira. Os 3 juízes do tribunal d'O Jogo dizem que não houve.

EM - Por acaso era 4 e dizem que o Secretário devia ter sido expulso aos 15 minutos.

VST - Não dizem, não.

EM - Dizem, dizem.

VST - Como é que sabes?

EM - Fui ver ao arquivo d'O Jogo.

VST - Mas eu acho que não dizem. Acreditas mais no que vem n'O Jogo ou no que eu digo que vem n'O Jogo?

EM - Em ti, claro. Deixei de confiar n'O Jogo desde que ouvi uma escuta do Pinto da Costa a ditar noticias ao António Tavares-Teles, por causa do castigo do Deco.

VST - Ouviste muitas conversas que não devíamos conhecer...

EM - Como diz um amigo meu, mas conhecemos. Eu também acho que não devíamos conhecer, mas conhecemos. E uma vez que as conhecemos, não podemos fingir que não conhecemos. Eu, pelo menos, não posso.

VST - Que amigo teu disse essa estupidez?

EM - Tu, Disseste ao 1.º Ministro, quando lhe perguntaste sobre as escutas que o envolviam.

VST - É diferente. Uma coisa é o destino do país, outra coisa é o que realmente importa, como o FCP. Aí há que respeitar o direito à privacidade. Lembras-te quando me roubaram o computador?

EM - Sim.

VST - Entrei em casa e estava o ladrão a meter tudo no saco.

EM - E tu?

VST - Antes que conseguisse reagir ele disse então não se bate à porta? Não se respeita a privacidade? Achei que ele tinha razão, portanto saí.

EM - E depois?

VST - Depois bati à porta, mas ele já não respondeu. Deve ter saído pela janela.

EM - Ficaste lixado, não?

VST - Claro. Não gosto de violar a privacidade das pessoas.

EM - Estou a falar do computador.

VST - Ah! Claro, isso também foi desagradável...

EM - Devias tê-lo impedido.

VST - A minha entrada foi ilegítima.

EM - A casa é tua!

VST - Mas a privacidade é dele. Já diziam os Founding Fathers, na Constituição Americana, que uma das verdades que temos como evidentes é que não se podem comentar escutas captadas em investigações sobre corrupção no futebol (eles dizem soccer), mesmo naquelas em que se combinam crimes.

EM - Pensei que isso das verdades tidas como evidentes era na Declaração de Independência.

VST - Ah! Confundi as duas. E agora? Vão dizer que eu, na ânsia de passar por culto e de sustentar os meus argumentos à força, dou calinadas!

EM - Já sei! Falamos com o Pinto da Costa e ele convence o relator da Constituição Americana a fazer umas alterações, para ficar como tu dizes! Como fez com o delegado do Sporting - Porto, que alterou o relatório para o Mourinho não ser castigado!

VST - Genial, presidente da Associação Comercial do Porto, genial!

Entra Godot

Godot - Olá! O que é que estão a fazer?

EM - À espera de uma vitória desportiva alcançada honestamente.

Godot - Ui! Vou-me sentar, então.

FIM"
Zé Diogo Quintela (sportinguista), in A Bola



Discurso exemplar

Carlos Móia, na Casa do Benfica de Ovar, sua terra natal, fez um discurso para repetir até a voz cansar!!! Deixo algumas citações:

Naquele tempo, ser Benfica era escolher simbolicamente a liberdade. Enquanto os nossos adversários tinham a dirigi-los homens da Legião, deputados da União Nacional, magnatas e burocratas enfeudados no salazarismo, nós, no Benfica, tínhamos presidentes que tinham sido operários e sindicalistas, que tinham sido deportados e perseguidos pela PIDE, que não se resignavam à ditadura, antes pelo contrário

Não, o Benfica nunca foi o clube do regime, foi sempre o clube que o regime teve de suportar a contragosto e de que, depois, se apoderou para, na sua propaganda, lhe parasitar a glória.”

Acusaram-nos de sermos ridículos por ameaçarmos não jogar no Dragão se não nos derem condições de segurança. Ridículos? Só assim, levando essa nossa luta para além dos 3 pontos que estão em jogo, poderemos ganhar o que é preciso ganhar: a batalha por um futebol mais respirável, menos subterrâneo. Onde a viagem a um estádio não se transforme na vertigem de uma intifada com meia dúzia de aprendizes de talibãs escondidos a rirem-se dos vidros partidos, dos desaforos, dos insultos, do sangue talvez

in Record

Rival ou Inimigo?

"Perante o silêncio cúmplice com que a Direcção do SCP e a maioria dos comentadores afectos ao clube de Alvalade acompanharam, nestes últimos anos, os castigos do processo do Apito Final e as absolvições do Apito Dourado, muitas vezes me tenho perguntado: será que já não há sportinguistas decentes, que não confundem o RIVAL com o INIMIGO?

Nestes últimos anos, depois de Dias da Cunha ter denunciado o SISTEMA e ter chamado os bois pelos nomes, a cumplicidade com o FCP por parte das direcções que se lhe seguiram (Filipe Soares Franco e, agora, Bettencourt) foi demasiado evidente: o inimigo era o Benfica e tudo o que servisse para atacar o Glorioso era bem-vindo, nem que para isso tivessem que pactuar com a batota e associar-se ao clube cujo presidente se gaba de ter deixado Bettencourt de mão estendida e lhes levou o Ruben Micael, o Moutinho e mesmo o treinador que eles julgavam que iam exibir este ano como um D. Sebastião: o Villas-Boas. E tudo o Porto levou!

A cumplicidade era tão grande que houve quem julgasse que a sigla SCP queria dizer Sporting Clube do Porto! Até ao ano passado, o SCP calou-se: não comentou os escandalosos resultados do Processo, não falou das escutas, pactuou com arbitragens indecentes, porque teve o segundo lugar garantido, e porque alguns sportinguistas sem brilho nem brio preferiam um segundo lugar várias vezes do que um primeiro de vez em quando! Desde que o Benfica ficasse atrás! Esta cegueira e esta obsessão reduziram o nosso grande rival a um clube de bairro, mergulhado numa crise de onde não se vê como vão sair, condenado a disputar um lugar na Europa ao Braga, ao Vitória de Guimarães ou ao Marítimo.

Mas, desde o ano passado, a coisa ganhou foros de delírio. Perante a evidência de um futebol brilhante, um treinador vitorioso e uma equipa confiante e ganhadora, que passeava a sua superioridade e sua classe pelos relvados, e que, sem batota, teria deixado os outros clubes muitos pontos atrás, era preciso arrasar o RIVAL, apoiando a vergonhosa campanha do FCP, matraqueada todos os dias com mentiras repetidas sobre os túneis e o andor, e que, à falta de argumentos, ressuscitava a indecorosa campanha contra o Calabote e reeditava a caluniosa campanha do “Clube do Regime”!
Nos tempos da Guerra Fria, os comunistas chamavam, com desprezo, aos que os apoiavam sem pedir nada em troca os “Idiotas úteis”. E, desde o ano passado, houve comentadores que se prestaram miseravelmente a essa vassalagem.

Ora, de há umas semanas para cá, quiçá por efeito da divulgação das novas escutas, houve alguns sportinguistas que acordaram e devolveram a decência à instituição: foi o caso do Jorge Gabriel, do Daniel Oliveira, do Alfredo Barroso e do José Diogo Quintela, que assinaram nos jornais e proclamaram na rádio que as escutas os indignavam e que, ao contrário do que outros vendem, a equipa do Sporting também foi prejudicada por arbitragens viciadas que a afastaram do título em épocas recentes. Aleluia! É tempo de os sportinguistas, mesmo que a sua Direcção se cale, perceberem que só poderão voltar a ser um grande clube quando a VERDADE DESPORTIVA voltar ao futebol, e isso implica aliar-se ao Benfica na luta pela independência dos órgãos que irão superintender à Arbitragem e à Disciplina e à decência dos seus membros, na próxima estrutura da Federação!

Sem isso, os nossos clubes vão continuar a ter que redobrar o esforço desportivo e financeiro para ganhar no campo contra todas as forças que, dentro e fora dele (a violência à volta dos estádios, os corredores do poder, os túneis, o apito e as bandeirinhas) fazem todos os possíveis para incendiar Lisboa e manter o poder no Norte.
ACORDEM LEÕES! OU SERÁ QUE ACHAM QUE, PARA ELES, VOCÊS NÃO SÃO MOUROS?!"

António Pedro Vasconcelos, in Master Groove

O Fraco Rei

"Nunca fui de participar nas aventurosas peripécias da vida interna dos clubes. Parece-se demasiadas vezes com o pior da política e falta-lhe o melhor. Mas, ao ouvir Dias Ferreira tão desconfortado como a promoção da assembleia geral, pensei o mesmo que muitos sócios: “Ai não me queres lá? Então agora é que vou mesmo!” E fui. Pela primeira vez na minha vida. Habituado a outros campeonatos, perturbou-me o papel que uns rapazes de umas claques podem ter numa assembleia supostamente democrática. E o meu espanto é que, apesar de tudo, isto era pouco habitual no Sporting. As derrotas explicam o desespero e a irracionalidade. Mas não é só isso. Citando o bom Camões, um fraco rei faz fraca a forte gente.

E o fraco rei falou. A todas as críticas responde com vitimização, a todos os desaires responde com culpas de terceiros, à evidências dos factos responde com uma cegueira obstinada e perante o abismo responde com a inevitabilidade do passo em frente. Exige a união dos sportinguistas. A união não se exige. É conquista de boas lideranças. A união que segue o líder fraco para o desastre existe apenas nas manadas. Não são os sócios indignados que fragilizam o Sporting perante os clubes rivais. São os resultados desportivos e financeiros.

Os clubes nascem e morrem. E se nada se fizer para travar este desastre, o Sporting tem os dias contados. Mesmo que os seus funcionários não vistam ganga e os seus dirigentes usem jargão empresarial para tentar explicar os resultados do seu amadorismo. Bettencourt estará à frente do Sporting até 2013. Temo que um dia destes tenhamos de fazer uma escolha: ou o seu mandato não sobrevive ao Sporting ou o Sporting não sobrevive ao seu mandato."


Daniel Oliveira(sportinguista), in Record