domingo, 17 de outubro de 2010
À espera de uma vitória honesta
"Estragon Moreira sentado no chão, tenta descalçar uma bota. Não consegue. Tenta outra vez, sem sucesso. Desiste.
EM - Nada a fazer.
Entra Vladimir Sousa Tavares.
VST - O meu amiguinho, como é que está? Quero dar-te os parabéns, pá. Foi preciso muita coragem para fugir do Trio s'Ataque, não te deixaste intimidar pelo Vasconcelos.
EM - Claro que não. Só me deixo intimidar pelos Super Dragões.
VST - Fizeste bem em pisgar-te. Nós não comentamos escutas.
EM - Nunca!
VST - Era só o que faltava!
EM - Não compactuamos com ilegalidades.
VST - E as escutas são ilegais.
EM - Escutas? Quais escutas? Não sei de escutas nenhumas!
VST - Ah, ah, ah! É isso mesmo!
Silêncio.
EM(embaraçado) - Eu já as ouvi.
VST - A sério?
EM - Foi sem querer. Fui ao Youtube procurar uma música da Lady Gaga e quando dei por mim estava a ouvir o Pinto da Costa e o António Araújo a combinarem entregar fruta ao Jacinto Paixão. Fiquei com algumas dúvidas, sabes...
VST - Ó! Por causa de uma frutinha? É uma simpatia. Para proteger o árbitro do escorbuto.
EM - Mas o António Araújo chama-lhe fruta para dormir.
VST - Óbvio! Depois do exercício, o corpo está cheio de adrenalina e custa a adormecer. Antes de me deitar como sempre um Kiwi.
EM - Então não achas que fruta é código para prostitutas?
VST - Claro que não! Conheces alguém que se refira a pessoas como frutas? É absurdo!
EM - Por acaso ainda na minha última crónica chamei melancia ao Quintela...
VST - Apre, Rui! Pareces os nossos adversários! Preferem interpretar uma conversa sobre entregas de fruta a árbitros como corrupção, em vez de a interpretarem como o que é: uma conversa banal sobre bem-estar dos árbitros. Há coisa mais natural do que um presidente de clube preocupar-se com a saúde de um árbitro? Ele até ofereceu uma viagem ao Calheiros, para descansar!
EM - Sim, tens razão. Mas é que...
VST - Ouviste mais, foi?
EM - A ida do Augusto Duarte a casa do Pinto da Costa...
VST - Essa foi explicada: o Augusto Duarte tinha urgência em pedir ao Pinto da Costa para interceder junto do seu pai, para que largasse a amante que tinha em Lisboa. Normalíssimo.
EM - Pelas conversas o Augusto Duarte não tem urgência nenhuma. Nem é ele que quer ir. Até prefere ir ver o seu Braguinha. E trata o Pinto da Costa por «chefe de caixa».
VST - Que é uma expressão carinhosa entre amigos. Nunca ouviste dizer és um chefe de caixa do carago?
EM - Pois. Mas é esquisito: dias depois ele ia apitar o Beira-Mar - Porto.
VST - Que já não contava para nada! já éramos campeões!
EM - Não, ainda não éramos.
VST - Mas tínhamos uma equipa fabulosa, que ia ser campeã europeia. O Baía...
EM - Por acaso dessa vez jogou o Nuno.
VST - O Paulo Ferreira, que vendemos por 20 milhões!
EM - Nesse jogo alinhou o Secretário.
VST - O Deco!
EM - Não, jogou o Ricardo Fernandes.
VST - McCarthy?
EM - Maciel.
VST - Não interessa. Não houve roubalheira. Os 3 juízes do tribunal d'O Jogo dizem que não houve.
EM - Por acaso era 4 e dizem que o Secretário devia ter sido expulso aos 15 minutos.
VST - Não dizem, não.
EM - Dizem, dizem.
VST - Como é que sabes?
EM - Fui ver ao arquivo d'O Jogo.
VST - Mas eu acho que não dizem. Acreditas mais no que vem n'O Jogo ou no que eu digo que vem n'O Jogo?
EM - Em ti, claro. Deixei de confiar n'O Jogo desde que ouvi uma escuta do Pinto da Costa a ditar noticias ao António Tavares-Teles, por causa do castigo do Deco.
VST - Ouviste muitas conversas que não devíamos conhecer...
EM - Como diz um amigo meu, mas conhecemos. Eu também acho que não devíamos conhecer, mas conhecemos. E uma vez que as conhecemos, não podemos fingir que não conhecemos. Eu, pelo menos, não posso.
VST - Que amigo teu disse essa estupidez?
EM - Tu, Disseste ao 1.º Ministro, quando lhe perguntaste sobre as escutas que o envolviam.
VST - É diferente. Uma coisa é o destino do país, outra coisa é o que realmente importa, como o FCP. Aí há que respeitar o direito à privacidade. Lembras-te quando me roubaram o computador?
EM - Sim.
VST - Entrei em casa e estava o ladrão a meter tudo no saco.
EM - E tu?
VST - Antes que conseguisse reagir ele disse então não se bate à porta? Não se respeita a privacidade? Achei que ele tinha razão, portanto saí.
EM - E depois?
VST - Depois bati à porta, mas ele já não respondeu. Deve ter saído pela janela.
EM - Ficaste lixado, não?
VST - Claro. Não gosto de violar a privacidade das pessoas.
EM - Estou a falar do computador.
VST - Ah! Claro, isso também foi desagradável...
EM - Devias tê-lo impedido.
VST - A minha entrada foi ilegítima.
EM - A casa é tua!
VST - Mas a privacidade é dele. Já diziam os Founding Fathers, na Constituição Americana, que uma das verdades que temos como evidentes é que não se podem comentar escutas captadas em investigações sobre corrupção no futebol (eles dizem soccer), mesmo naquelas em que se combinam crimes.
EM - Pensei que isso das verdades tidas como evidentes era na Declaração de Independência.
VST - Ah! Confundi as duas. E agora? Vão dizer que eu, na ânsia de passar por culto e de sustentar os meus argumentos à força, dou calinadas!
EM - Já sei! Falamos com o Pinto da Costa e ele convence o relator da Constituição Americana a fazer umas alterações, para ficar como tu dizes! Como fez com o delegado do Sporting - Porto, que alterou o relatório para o Mourinho não ser castigado!
VST - Genial, presidente da Associação Comercial do Porto, genial!
Entra Godot
Godot - Olá! O que é que estão a fazer?
EM - À espera de uma vitória desportiva alcançada honestamente.
Godot - Ui! Vou-me sentar, então.
FIM"
Zé Diogo Quintela (sportinguista), in A Bola
Discurso exemplar
Carlos Móia, na Casa do Benfica de Ovar, sua terra natal, fez um discurso para repetir até a voz cansar!!! Deixo algumas citações:
“Naquele tempo, ser Benfica era escolher simbolicamente a liberdade. Enquanto os nossos adversários tinham a dirigi-los homens da Legião, deputados da União Nacional, magnatas e burocratas enfeudados no salazarismo, nós, no Benfica, tínhamos presidentes que tinham sido operários e sindicalistas, que tinham sido deportados e perseguidos pela PIDE, que não se resignavam à ditadura, antes pelo contrário”
“Naquele tempo, ser Benfica era escolher simbolicamente a liberdade. Enquanto os nossos adversários tinham a dirigi-los homens da Legião, deputados da União Nacional, magnatas e burocratas enfeudados no salazarismo, nós, no Benfica, tínhamos presidentes que tinham sido operários e sindicalistas, que tinham sido deportados e perseguidos pela PIDE, que não se resignavam à ditadura, antes pelo contrário”
“Não, o Benfica nunca foi o clube do regime, foi sempre o clube que o regime teve de suportar a contragosto e de que, depois, se apoderou para, na sua propaganda, lhe parasitar a glória.”
“Acusaram-nos de sermos ridículos por ameaçarmos não jogar no Dragão se não nos derem condições de segurança. Ridículos? Só assim, levando essa nossa luta para além dos 3 pontos que estão em jogo, poderemos ganhar o que é preciso ganhar: a batalha por um futebol mais respirável, menos subterrâneo. Onde a viagem a um estádio não se transforme na vertigem de uma intifada com meia dúzia de aprendizes de talibãs escondidos a rirem-se dos vidros partidos, dos desaforos, dos insultos, do sangue talvez”
in Record
Rival ou Inimigo?
"Perante o silêncio cúmplice com que a Direcção do SCP e a maioria dos comentadores afectos ao clube de Alvalade acompanharam, nestes últimos anos, os castigos do processo do Apito Final e as absolvições do Apito Dourado, muitas vezes me tenho perguntado: será que já não há sportinguistas decentes, que não confundem o RIVAL com o INIMIGO?
Nestes últimos anos, depois de Dias da Cunha ter denunciado o SISTEMA e ter chamado os bois pelos nomes, a cumplicidade com o FCP por parte das direcções que se lhe seguiram (Filipe Soares Franco e, agora, Bettencourt) foi demasiado evidente: o inimigo era o Benfica e tudo o que servisse para atacar o Glorioso era bem-vindo, nem que para isso tivessem que pactuar com a batota e associar-se ao clube cujo presidente se gaba de ter deixado Bettencourt de mão estendida e lhes levou o Ruben Micael, o Moutinho e mesmo o treinador que eles julgavam que iam exibir este ano como um D. Sebastião: o Villas-Boas. E tudo o Porto levou!
A cumplicidade era tão grande que houve quem julgasse que a sigla SCP queria dizer Sporting Clube do Porto! Até ao ano passado, o SCP calou-se: não comentou os escandalosos resultados do Processo, não falou das escutas, pactuou com arbitragens indecentes, porque teve o segundo lugar garantido, e porque alguns sportinguistas sem brilho nem brio preferiam um segundo lugar várias vezes do que um primeiro de vez em quando! Desde que o Benfica ficasse atrás! Esta cegueira e esta obsessão reduziram o nosso grande rival a um clube de bairro, mergulhado numa crise de onde não se vê como vão sair, condenado a disputar um lugar na Europa ao Braga, ao Vitória de Guimarães ou ao Marítimo.
Mas, desde o ano passado, a coisa ganhou foros de delírio. Perante a evidência de um futebol brilhante, um treinador vitorioso e uma equipa confiante e ganhadora, que passeava a sua superioridade e sua classe pelos relvados, e que, sem batota, teria deixado os outros clubes muitos pontos atrás, era preciso arrasar o RIVAL, apoiando a vergonhosa campanha do FCP, matraqueada todos os dias com mentiras repetidas sobre os túneis e o andor, e que, à falta de argumentos, ressuscitava a indecorosa campanha contra o Calabote e reeditava a caluniosa campanha do “Clube do Regime”!
Nos tempos da Guerra Fria, os comunistas chamavam, com desprezo, aos que os apoiavam sem pedir nada em troca os “Idiotas úteis”. E, desde o ano passado, houve comentadores que se prestaram miseravelmente a essa vassalagem.
Ora, de há umas semanas para cá, quiçá por efeito da divulgação das novas escutas, houve alguns sportinguistas que acordaram e devolveram a decência à instituição: foi o caso do Jorge Gabriel, do Daniel Oliveira, do Alfredo Barroso e do José Diogo Quintela, que assinaram nos jornais e proclamaram na rádio que as escutas os indignavam e que, ao contrário do que outros vendem, a equipa do Sporting também foi prejudicada por arbitragens viciadas que a afastaram do título em épocas recentes. Aleluia! É tempo de os sportinguistas, mesmo que a sua Direcção se cale, perceberem que só poderão voltar a ser um grande clube quando a VERDADE DESPORTIVA voltar ao futebol, e isso implica aliar-se ao Benfica na luta pela independência dos órgãos que irão superintender à Arbitragem e à Disciplina e à decência dos seus membros, na próxima estrutura da Federação!
Sem isso, os nossos clubes vão continuar a ter que redobrar o esforço desportivo e financeiro para ganhar no campo contra todas as forças que, dentro e fora dele (a violência à volta dos estádios, os corredores do poder, os túneis, o apito e as bandeirinhas) fazem todos os possíveis para incendiar Lisboa e manter o poder no Norte.
ACORDEM LEÕES! OU SERÁ QUE ACHAM QUE, PARA ELES, VOCÊS NÃO SÃO MOUROS?!"
António Pedro Vasconcelos, in Master Groove
Nestes últimos anos, depois de Dias da Cunha ter denunciado o SISTEMA e ter chamado os bois pelos nomes, a cumplicidade com o FCP por parte das direcções que se lhe seguiram (Filipe Soares Franco e, agora, Bettencourt) foi demasiado evidente: o inimigo era o Benfica e tudo o que servisse para atacar o Glorioso era bem-vindo, nem que para isso tivessem que pactuar com a batota e associar-se ao clube cujo presidente se gaba de ter deixado Bettencourt de mão estendida e lhes levou o Ruben Micael, o Moutinho e mesmo o treinador que eles julgavam que iam exibir este ano como um D. Sebastião: o Villas-Boas. E tudo o Porto levou!
A cumplicidade era tão grande que houve quem julgasse que a sigla SCP queria dizer Sporting Clube do Porto! Até ao ano passado, o SCP calou-se: não comentou os escandalosos resultados do Processo, não falou das escutas, pactuou com arbitragens indecentes, porque teve o segundo lugar garantido, e porque alguns sportinguistas sem brilho nem brio preferiam um segundo lugar várias vezes do que um primeiro de vez em quando! Desde que o Benfica ficasse atrás! Esta cegueira e esta obsessão reduziram o nosso grande rival a um clube de bairro, mergulhado numa crise de onde não se vê como vão sair, condenado a disputar um lugar na Europa ao Braga, ao Vitória de Guimarães ou ao Marítimo.
Mas, desde o ano passado, a coisa ganhou foros de delírio. Perante a evidência de um futebol brilhante, um treinador vitorioso e uma equipa confiante e ganhadora, que passeava a sua superioridade e sua classe pelos relvados, e que, sem batota, teria deixado os outros clubes muitos pontos atrás, era preciso arrasar o RIVAL, apoiando a vergonhosa campanha do FCP, matraqueada todos os dias com mentiras repetidas sobre os túneis e o andor, e que, à falta de argumentos, ressuscitava a indecorosa campanha contra o Calabote e reeditava a caluniosa campanha do “Clube do Regime”!
Nos tempos da Guerra Fria, os comunistas chamavam, com desprezo, aos que os apoiavam sem pedir nada em troca os “Idiotas úteis”. E, desde o ano passado, houve comentadores que se prestaram miseravelmente a essa vassalagem.
Ora, de há umas semanas para cá, quiçá por efeito da divulgação das novas escutas, houve alguns sportinguistas que acordaram e devolveram a decência à instituição: foi o caso do Jorge Gabriel, do Daniel Oliveira, do Alfredo Barroso e do José Diogo Quintela, que assinaram nos jornais e proclamaram na rádio que as escutas os indignavam e que, ao contrário do que outros vendem, a equipa do Sporting também foi prejudicada por arbitragens viciadas que a afastaram do título em épocas recentes. Aleluia! É tempo de os sportinguistas, mesmo que a sua Direcção se cale, perceberem que só poderão voltar a ser um grande clube quando a VERDADE DESPORTIVA voltar ao futebol, e isso implica aliar-se ao Benfica na luta pela independência dos órgãos que irão superintender à Arbitragem e à Disciplina e à decência dos seus membros, na próxima estrutura da Federação!
Sem isso, os nossos clubes vão continuar a ter que redobrar o esforço desportivo e financeiro para ganhar no campo contra todas as forças que, dentro e fora dele (a violência à volta dos estádios, os corredores do poder, os túneis, o apito e as bandeirinhas) fazem todos os possíveis para incendiar Lisboa e manter o poder no Norte.
ACORDEM LEÕES! OU SERÁ QUE ACHAM QUE, PARA ELES, VOCÊS NÃO SÃO MOUROS?!"
António Pedro Vasconcelos, in Master Groove
O Fraco Rei
"Nunca fui de participar nas aventurosas peripécias da vida interna dos clubes. Parece-se demasiadas vezes com o pior da política e falta-lhe o melhor. Mas, ao ouvir Dias Ferreira tão desconfortado como a promoção da assembleia geral, pensei o mesmo que muitos sócios: “Ai não me queres lá? Então agora é que vou mesmo!” E fui. Pela primeira vez na minha vida. Habituado a outros campeonatos, perturbou-me o papel que uns rapazes de umas claques podem ter numa assembleia supostamente democrática. E o meu espanto é que, apesar de tudo, isto era pouco habitual no Sporting. As derrotas explicam o desespero e a irracionalidade. Mas não é só isso. Citando o bom Camões, um fraco rei faz fraca a forte gente.
E o fraco rei falou. A todas as críticas responde com vitimização, a todos os desaires responde com culpas de terceiros, à evidências dos factos responde com uma cegueira obstinada e perante o abismo responde com a inevitabilidade do passo em frente. Exige a união dos sportinguistas. A união não se exige. É conquista de boas lideranças. A união que segue o líder fraco para o desastre existe apenas nas manadas. Não são os sócios indignados que fragilizam o Sporting perante os clubes rivais. São os resultados desportivos e financeiros.
Os clubes nascem e morrem. E se nada se fizer para travar este desastre, o Sporting tem os dias contados. Mesmo que os seus funcionários não vistam ganga e os seus dirigentes usem jargão empresarial para tentar explicar os resultados do seu amadorismo. Bettencourt estará à frente do Sporting até 2013. Temo que um dia destes tenhamos de fazer uma escolha: ou o seu mandato não sobrevive ao Sporting ou o Sporting não sobrevive ao seu mandato."
Daniel Oliveira(sportinguista), in Record
E o fraco rei falou. A todas as críticas responde com vitimização, a todos os desaires responde com culpas de terceiros, à evidências dos factos responde com uma cegueira obstinada e perante o abismo responde com a inevitabilidade do passo em frente. Exige a união dos sportinguistas. A união não se exige. É conquista de boas lideranças. A união que segue o líder fraco para o desastre existe apenas nas manadas. Não são os sócios indignados que fragilizam o Sporting perante os clubes rivais. São os resultados desportivos e financeiros.
Os clubes nascem e morrem. E se nada se fizer para travar este desastre, o Sporting tem os dias contados. Mesmo que os seus funcionários não vistam ganga e os seus dirigentes usem jargão empresarial para tentar explicar os resultados do seu amadorismo. Bettencourt estará à frente do Sporting até 2013. Temo que um dia destes tenhamos de fazer uma escolha: ou o seu mandato não sobrevive ao Sporting ou o Sporting não sobrevive ao seu mandato."
Daniel Oliveira(sportinguista), in Record