domingo, 10 de outubro de 2010

Promete


O Leixões está mais forte do que a época passada, mas mesmo assim este não foi um teste difícil. Devido a um quadro competitivo ridículo, o campeonato 'a sério' só começa na 2ª fase, até lá temos que ganhar rotinas, e este jogo mostrou ainda algumas falhas entre o Renan e os rematadores, normais para esta altura da época...
Analisando o plantel a equipa parece ter um potencial idêntico ao da época passada. O Hugo Gaspar entrou para o lugar do Pedro d'Ornelas, o Flávio, e o Ching entraram para o lugar do Cundy, e do Tarr, o Rafa entrou para o lugar do Alf, o Fidalgo foi substituído pelo Sheneider, e conseguimos manter os centrais. Até Janeiro ainda deverá entrar alguém, neste momento tanto o Gaspar (oposto), e o Rafa (libero) não tem substitutos, o que poderá ser perigoso. O potencial do Gaspar é indesmentível, um dos melhores rematadores da história do Volei Português, mas pessoalmente acho que é um jogador irregular, é capaz de grandes jogos (como a final da Taça o ano passado contra o Benfica), como é capaz de jogos menos bons. Também não sei o que aconteceu ao João Magalhães, que o ano passado fez excelentes jogos a libero, e mesmo após o regresso do Alf foi muito importante quando foi preciso reforçar a defesa baixa. Aliás foi na defesa baixa que tivemos muitas dificuldades o ano passado...
A pré-época correu muitíssimo bem, com vitória atrás de vitória. Creio que o Sp. Espinho está mais fraco, têm muitos jogadores novos, vão melhorar de certeza, mas creio que o potencial é menor. O Vitória no 'papel' deverá ser o nosso grande adversário, 'pescou' em Espinho, e manteve os seus melhores jogadores. O Castelo será o 4º favorito, não creio que possam ganhar o campeonato, mas num dia bom podem ganhar jogos aos outros favoritos.
Uma palavra para o Prof. Jardim, já tinha saudades de ver o Professor a fazer quilómetros na linha lateral, e ainda a saltar tanto, ou mais, do que os seus jogadores!!!!!!!

Está tudo na mesma

"MAIS escutas sobre o processo Apito Dourado entram no circuito público por bênção de novas tecnologias de comunicação. Em rigor, a única novidade prende-se com os diálogos. No resto, tudo como antes, com os artistas habituais. Apenas os actores secundários se revezam, naquele papel de coitados, qual deles mais se curva no pedido de protecção no apelo aos bons desempenhos dos homens do apito. Dá a ideia de algum poder insondável, que ninguém com atribuições para tal é capaz de identificar, acusar e condenar: se uma pessoa de muitas e ricas influências, se uma organização secreta, se um sistema clandestino. Ou… se é tão-somente a fervilhante imaginação de um pequeno país, onde todos se conhecem e se invejam e em que as discussões no quintal do vizinho são o bálsamo que alivia as dores que atormentam a nossa própria casa.
Vivemos num estado de direito, como insistente e pedagogicamente ouço dizer a propósito de tudo e de nada, não vá o cidadão comum, pouco identificado com a complexidade das leis, pensar que este rectângulo na ponta ocidental da Europa se orienta ainda pelas regras do distante far west, em que no acto de julgar, apurados os factos, depois de pesadas circunstâncias agravantes e atenuantes, se absolvia o autor do disparo e se condenava a vítima pelo crime de intromissão abusiva na trajectória da bala.
Tornou-se uma inutilidade desperdiçar tempo com as escutas a partir da altura em que meia dúzia de tribunais a sério, como lhe chama Miguel Sousa Tavares, as ouviram, analisaram e decidiram: não valem nada. O problema é que quem se considera minimamente identificado com as questões do futebol português, e não tem a sua capacidade auditiva prejudicada, identifica facilmente os intervenientes e percebe, mesmo através de frases tolamente criptografadas, o alcance dos diálogos, não no acessório, mas no essencial: O esquema, o arranjo, o estratagema, a batota…
O assunto está resolvido, porque vivemos num Estado de Direito. As escutas devem ser destruídas e os desobedientes punidos. Pessoalmente, porém preferia viver num estado de verdade, de justiça, como gostaria que ela fosse, irrepreensivelmente justa e não resultado de aplicação cega, e também surda, de leis e mais leis, algumas cujas interpretações convidam a interminável espaço de discussão… e nenhuma consequência.
Desiluda-se quem pensar que, apesar do barulho provocado, o Apito Dourado vai contribuir para a purificação do ambiente futebolístico. As escutas agora apresentadas como novas apenas oferecem coisas velhas: as conversas e… os intérpretes, entre administradores, directores, amigos e afins, quase todos da área social do FC Porto.


NO DN de domingo reparei em uma notícia sobre um procurador adjunto suspenso por um ano, dado ter pretendido vender um bilhete para o concerto de Madonna por 450 euros quando o preço era de 60. Estamos a falar de um procurador adjunto, por isso sugere a prudência e devido recato. Espantoso é o facto de o magistrado apanhado ter pretendido inverter os papéis. Isto é, transferir o ónus de quem vendeu, para quem comprou, com o objectivo de desmascarar uma ilegalidade, o inspector da ASAE. A proposta de demissão de funções foi atenuada para um ano de suspensão, o que significa que o dito procurador, mais mês, menos mês, volta a andar por aí, em funções, legitimado pela lei, mas não pela moral. É como no futebol, continuam também por aí, ufanos e ilibados. Nada mudou.


COM a irritação que o caracteriza quando se cruza com o Benfica, Domingos Paciência anunciou que pretendia sair da Luz com cinco pontos de vantagem. Perdeu, mas não se convenceu. Disse ele que o pessoal de Jesus acabou o jogo encostado à sua área, amedrontado, por certo, e a queimar tempo. É a opinião dele. A minha diverge: pelo que vi na televisão, sugiro a Domingos a humildade que tem tido noutras situações e agradeça a quem quiser por não regressar a Braga com outra derrota pesada no bornal. Não lhe retiro o mérito, mas a sorte foi boa companheira. Uma coisa é deixar andar, jogar para o empate ou apostar no erro contrário (Braga); outra, substancialmente diferente, é assumir a iniciativa desde o primeiro minuto, jogar declaradamente para vencer, construir várias oportunidades de golo (Benfica)."
Fernando Guerra, in A Bola

"Titanic" no bidé


"No Trio d'Ataque de terça-feira, depois da saída de Rui Moreira (que fez lembrar a fuga do árbitro Paulo Baptista das Antas, quando Pinto da Costa lhe quis oferecer «jantar»), Rui Oliveira e Costa (ROC) disse que as escutas são uma forma de tortura. Disse também que não as discutia porque, cito, «não lavo a cara no bidé», o que faz dele um dos mais completos comentadores desportivos de país: não só perora sobre futebol como, ao mesmo tempo, fornece informações sobre os seus hábitos de higiene. Gosto disso e vou copiar o modelo.

Eu (que não uso canetas Bic para limpar a cera dos ouvidos) também acho que as escutas são uma tortura. Mas para quem as ouve. Perceber que aquelas conversas foram descaradamente ignoradas pelo tribunal é um suplício para mim, (que não palito os dentes com a chave).

Debruço-me apenas sobre alguns segundos destas novas escutas, quando António Araújo fala com um funcionário do FCP e pergunta quem serão os bandeirinhas de Paraty no Gil Vicente-Sporting. Como depois não se aflora mais esse assunto, fui averiguar. Encontrei esta noticia no DN de 7 de Setembro de 2006:
«O Sporting foi outra das equipas que terão sido prejudicadas pelas arbitragens, na época 2003/04(...). No processo Apito Dourado há uma referência ao jogo Gil Vicente-Sporting(a 22 de Fevereiro de 2004), em que se descrevem movimentações antes da partida.(...)
O jogo foi arbitrado por Paulo Paraty e a Policia Judiciária interceptou, dias antes da partida, contactos entre o empresário António Araújo, que mantém negócios com o FC Porto, e um dos auxiliares que fazia equipa com o árbitro do Porto, Devesa Neto. 'Eu depois de amanhã ligo-lhe, que eu precisava de, eu precisava de falar com o Paulo(...) que preciso de lhe dar uma palavrinha, está bem?', disse Araújo a Devesa Neto. Neste mesmo dia, Paraty fala com Devesa Neto ao telefone e, pela conversa, o outro árbitro assistente do jogo, Serafim Nogueira, «iria beneficiar o Gil Vicente e um terceiro clube, o FC Porto», segundo refere o Ministério Público de Gondomar no despacho de arquivamento.
'O Serafim vai vacinado, vai benzido(...) vai benzido pelo lado norte. Bruxo. Vai benzido por dois lados até (...) pelo Minho e pelo norte'. Foi esta troca de palavras entre os dois que levantou suspeitas. Até porque na mesma conversa, Devesa Neto disse: 'Ele também nunca pode fazer muito, o jogo dá na televisão, perceber?'
O jogo acabou empatado (1-1) e o MP afirma que, com este resultado, o Sporting perdeu dois pontos e atrasou-se na luta pelo titulo. No relatório da peritagem ao jogo, são elencados vários lances em que ficaram por punir faltas ao Gil Vicente que poderiam resultar na 'possibilidade do Sporting marcar golo'.»

Apesar do jogo ter dado na TV, o Serafim até fez muito: o Gil Vicente marca o golo num penalty inventado. Lembro que isto se passou na mesma época em que António Araújo, o torturado, ofereceu fruta a Jacinto Paixão a mando de Pinto da Costa; a mesma época em que António Araújo, o mártir, combina a ida do árbitro Augusto Duarte a casa de Pinto da Costa; a mesma época em que António Araújo, o flagelado, diz ao presidente do Nacional que há que «trabalhar» o árbitro, ao que este responde «toca a andar». E parece que andou mesmo.


Portanto, nessa época, quando este empresário se conluia com o bandeirinha dum jogo em que o Sporting viria a ser prejudicado, há comentadores sportinguistas que acham que ele é que é a vítima. É uma espécie de síndroma de Estocolmo, se Estocolmo fosse na Avenida Fernão de Magalhães, no Porto.


ROC diz que as escutas são tortura. Tortura é escutar ROC, que é capaz de passar uma hora a discutir se o árbitro errou ou não, e dizer que não se pronuncia quando se descobre a razão pela qual o árbitro errou. Ainda por cima sabendo que, à conta da trafulhice dessa época de 2003/04, fomos afastados da classificação favorita de ROC, o 2ºlugar. E também da minha, o 1ºlugar. Mas isso sou eu, que não me assoo à fralda da camisa.


No editorial em que responde aos comunicados do Sporting, Alexandre Pais (AP) diz que «Record reage assim com superioridade moral e distância aos recentes comunicados». Normalmente, sabe-se que alguém se guinda a uma posição de superioridade moral pelo tom que usa, pela forma como diz as coisas. Mas em AP a superioridade moral é dupla: não só é intuída, como o próprio assegura que a possui. É uma superioridade moral moralmente superior. Com esta sobranceria redundante, AP elevou a santimónia a um novo patamar. É um moralista num escadote.


Não me surpreende. Em Setembro de 2006, (quando surgiram notícias como a do DN aqui citada), respondi a um inquérito do Record. À pergunta «o que gostaria de ler amanhã no Record?», respondi «uma noticia qualquer sobre escutas e corrupção, que não seja primeiro dada nos jornais generalistas.» Passados uns dias AP escreveu: «José Diogo Quintela disse, nestas colunas, que gostaria de ler amanhã no Record 'uma noticia qualquer sobre escutas e corrupção que não seja primeira dada nos jornais generalistas'. Trata-se de um desejo difícil de concretizar, pois quando o futebol perder de todo a credibilidade - traído por aqueles a quem dá de comer - aos generalistas não faltarão outros temas para exibir barba rija. Mas, morto o futebol, o Record perderá a razão de existir. Que mexam no lixo que os tribunais largaram. Nós pertencemos a um circo que vive de emoções - de golos e de erros, títulos e de frustrações. E não temos vergonha disso


Assim fiz. Continuei a mexer no lixo do Apito Dourado, enquanto AP continuou a pertencer aos «circo que vive de emoções», não traindo quem lhe «dá de comer». Sem vergonha, como o próprio admite, Mas com estupenda superioridade moral, claro."


Zé Diogo Quintela (sportinguista), in A Bola

Rui e André

"Recentemente, até os mais renitentes adeptos do FC Porto começaram a ter razões para acreditar que o futebol português é um caso de polícia. Na segunda à noite, foi uma grande penalidade que não apareceu. Na terça à noite, foi um comentador que desapareceu. Do ponto de vista dos protagonistas, o descontrolo emocional adquiriu diferentes contornos: enquanto André Villas-Boas queria falar de uma coisa que não aconteceu (costuma-se dizer, e agora confirma-se, que os mais novos têm muita imaginação), Rui Moreira recusava-se a falar de uma coisa que aconteceu.

Em termos comparativos, o pungente pedido do técnico do FC Porto à TVI é mais maquiavélico. Procurar um penálti não assinalado contra o FC Porto é uma tarefa para a qual basta um estagiário. Já mandar um estagiário procurar um penálti não assinalado a favor do FC Porto não é uma tarefa, é uma praxe: é a caça ao gambozino dos tempos modernos.

Seja como for, Rui Moreira venceu André Villas-Boas no capítulo da ambivalência. Por um lado, é contra a prática pidesca das escutas; por outro, é a favor da prática pidesca de tentar condicionar os assuntos sobre os quais os outros querem falar. Mas desdramatizemos: sem Rui Moreira, “Trio D’Ataque” melhorou substancialmente. Se Rui Oliveira e Costa também tivesse abandonado o estúdio, aí então teria sido um programa genial. Mas compreendo que tenha que ficar alguém para defender o ponto de vista do FC Porto. E não só: Rui Oliveira e Costa representa também no programa um terceiro grupo, o dos portugueses sem qualquer tipo de escolaridade: quando, por exemplo, se dirige ao moderador para lhe dizer “explicitastes claramente” e “fostes exemplar”. Enfim, as coisas são o que são. Uma laranjeira não dá nêsperas."