quinta-feira, 7 de outubro de 2010

António Pedro Vasconcelos

"Caros amigos,
Fico subjugado com tantos comentários. Na verdade, eu não fiz nada de extraordinário: limitei-me a dizer aquilo que qualquer pessoa de bem pensa, perante escutas que foram, na altura, devidamente autorizadas por um juiz de instrução e que, inexplicavelmente (a não ser por intervenção de forças exeriores à justiça) não foram tidas em conta pelos tribunais civis e levaram à absolvição de todos os arguidos.

Ao contrário do que se passou na Justiça Desportiva, que agiu em conformidade com a Lei e o Estado de Direito (os arguidos, perante os indícios de crime, foram acusados por um instrutor e julgados pela Comissão de Disciplina, com direito a defesa e prova, para que se respeitasse o exercício do contraditório, e foram punidos dentro do que a moldura penal permitia), os tribunais civis desvalorizaram as escutas e o testemunho de Carolina Salgado e ilibaram os acusados.
O país inteiro que se interessa por futebol e que não está de má-fé, ouviu e confirmou o que há muito se suspeitava: que, durante anos, houve batota no futebol português e a intervenção ilegítima de um clube - o F.C. Porto - sobre a arbitragem e a disciplina.

Sou benfiquista desde que me fiz à vida, os meus filhos e netos são benfiquistas; e, para além da paixão clubista, que é irracional e inexplicável, o que o Benfica representa para mim, para além de festejar as vitórias e sofrer com as derrotas, é o exemplo como clube: um clube onde sempre houve eleições, um clube popular mas que atravessa todas as classes sociais, que tem adeptos em todos os países e em todos os cantos do Globo, que sempre foi um exemplo de democracia e de liberdade, e que soube correr a tempo com os que quiseram desviá-lo dos seus princípios, como foi o caso, de má memória, de Vale e Azevedo.

Uma coisa eu tenho por certa, e por isso me surpreende e me indigna a atitude dos que condenam a divulgação das escutas e não o que lá se ouve: se, algum dia, um presidente do meu clube ou alguém em seu nome, dissesse ou fizesse metade do que se sabe agora que foi dito e feito pelo presidente do F.C. Porto e pela sua entourage, eu pedia a sua demissão e não descansava enquanto ele não se demitisse.

E a razão porque me orgulho de ser benfiquista, é que tenho a certeza que a esmagadora maioria dos benfiquistas pensa e faria como eu. Assim como sei que nunca, por mais razões que tivesse para isso, o Benfica se comportaria como alguns adeptos do F.C Porto (friso o "alguns", porque conheço imensos portistas do Norte, que são gente de bem, cordata e pacífica), que agem perante o silêncio e mesmo a cumplicidade dos seus dirigentes, se comportaram nestes últimos anos e continuam a comportar, quando o Benfica vai jogar à sua cidade. E se os imitassem, estou certo que seriam repudiados pela direcção e pela maioria dos benfiquistas.

É isso que nos distingue, e é pior isso que o Glorioso é, para mim e para os meus filhos e netos, uma paixão e um exemplo.

Saudações benfiquistas.
A-PV"
António Pedro Vasconcelos, in Master Groove, em resposta a este post

Peçam lá para repetir o jogo!

"Na noite da passada segunda-feira, o simpático jogador uruguaio Jorge Fucile fez ao FC Porto em Guimarães precisamente a mesma coisa que umas semanas antes, no mesmo recinto, o árbitro Olegário Benquerença fizera ao Benfica.
Para quem ande distraído ou sofra de compreensão lenta, talvez seja necessário explicar melhor a ideia expressa no parágrafo anterior.
Tal como Olegário Benquerença, de apito na boca, enterrou o Benfica, na 4.ª jornada do campeonato, sonegando pontos aos campeões nacionais, Jorge Fucile, à 7.ª jornada, enterrou o FC Porto, que é a sua equipa, com uma exibição deplorável: numa desatenção sua nasceu o golo do Vitória de Guimarães, terminou o jogo mais cedo do que os companheiros porque foi expulso, e muito bem expulso, acrescente-se.
Fucile, ainda na primeira parte, rubricou ainda um outro momento que poderia ser fatal se o árbitro, Carlos Xistra, não tivesse deixado passar em claro a falta sobre um atacante adversário que cometeu dentro da sua área e que não foi sancionada com a grande penalidade que consta das leis do jogo tal como as conhecemos.
Tal como já lhe tinha acontecido na temporada passada, em Londres, no jogo com o Arsenal para a Liga dos Campeões, Fucile teve em Guimarães uma noite que gostará de esquecer porque foi altamente penalizadora para o seu clube.
Entre alguns benfiquistas mais versados no tema conspirativo das arbitragens, até há quem sugira que a expulsão de Fucile foi uma encomenda gritada do banco do FC Porto para o sempre obediente Carlos Xistra.
Qualquer coisa assim:
- Expulsa-nos lá o Fucile antes que ele dê mais cabo da equipa!
O que explicaria o momento dramático furioso de André Villas Boas, no fundo um grande canastrão, gritando junto à linha lateral a sua falsa revolta pela expulsão que tinha pedido. Ou seja, era para disfarçar.
Mas a coisa saiu-lhe mal porque o actor, como já referimos, também não é grande espingarda e o próprio árbitro acabou por se sentir incomodado coma péssima representação do moranguito que é como por aqui se chamam aos actores que estão em início de carreira.
Carlos Xistra, antes de lhe mostrar o cartão vermelho, ainda lhe recomendou:
- Menos, André, menos…
Mas foi em vão.
Também há quem defenda uma ideia contrária. É que não foi nada para disfarçar. André Villas Boas foi expulso para imitar José Mourinho, sua referência de palco. O problema aqui é que não é José Mourinho quem quer, só é José Mourinho quem pode, como o próprio, aliás, tão bem vem demonstrando ao longo de dez anos de carreira.
Depois enfim, aconteceu o que já se sabe.
O moranguito induziu-se por sua alta recreação num monólogo desastrado, clamou por imagens que lhe dessem razão, prometeu arrependimento público no caso de estar enganado e acabou sozinho em palco a meter os pés pelas mãos num ror de petulâncias que José Mourinho jamais assinaria porque ninguém o imagina a expor-se, assim, ao ridículo de ter de se desmentir a si próprio.
O desvario cénico por um empatezinho, para o qual o árbitro não foi tido nem achado, não acrescenta louros ao brasão de um treinador que segue isolado no comando da tabela com 7 pontos de avanço sobre os seus mais directos perseguidores e que ainda não perdeu um jogo oficial na corrente temporada.
Mas se não sabemos ainda se André Villas Boas tem mau perder, já é um dado adquirido que tem péssimo empatar.
Quanto às suas queixas sobre dois fora-de-jogo mal assinalados ao ataque portista, a que se juntou a voz sempre autorizada, quando se fala de árbitros, de Pinto da Costa, é o caso para lhe dizer:
- Peçam lá para repetir o jogo!
Comemorou-se o centenário da República e um novo pacote de escutas do processo Apito Dourado foi disponibilizado no Youtube certamente com o intuito de acrescentar algum brilho cívico à efeméride.
O inevitável constrangimento de alguns opinantes leva-os a indignar-se muito com o assunto.
E, em nome da nossa República, da democracia que é de todos e das boas maneiras, que nem todos têm, reclamam um silêncio total sobre esse material não só porque é «ilegal» como também porque é feio escutar as conversas dos outros.
Discordo da argumentação. É muito importante para o triunfo dos ideais republicanos sobre a chafurda reinante tomar o povo conhecimento, por exemplo, da escuta do «nosso amigo juiz». Já ouviram?
Então vão ouvir como é que um juiz de um tribunal civil, trata como «o nosso amigo juiz», depois de passar uma manhã a ajuizar sobre uma questão que diz directamente respeito a um clube de futebol, finda a sessão pede, republicanamente, dois convites para ir ver a bola com o filho na tribuna presidencial de estádio do dito clube.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
Principalmente uma grande fraternidade.

CARLOS Martins foi chamado à Selecção Nacional por Paulo Bento, treinador com quem teve alguns conflitos quando ambos eram funcionários do Sporting.
As razões desses conflitos nunca foram bem conhecidas mas, se fosse hoje, com o código Costinha para vestuário e comportamentos já em vigor, certamente que não teriam acontecido porque quer Paulo Bento quer Carlos Martins só teriam a lucrar humana e profissionalmente com os ensinamentos e ditames do actual director do Sporting, tal como já estão a lucrar os jogadores que compõem o actual plantel de Alvalade.
Mas, para Paulo Bento e Martins, os tempos já são outros. E Carlos Martins merece, sem dúvida, a confiança de Paulo Bento porque está a jogar que é uma maravilha. É até estranho como é que um jogador com esta qualidade, que foi criado nas escolas de Sporting, está hoje ao serviço do Benfica…
Enfim, foi um que escapou para o clube rival ao contrário de alguns outros, também de excelente dimensão, que de Alvalade rumaram alegremente para um clube amigo, como Ricardo Quaresma, Varela e, mais recentemente, João Moutinho. Com certeza que são rapazes que não se vestem bem."
Leonor Pinhão, in A Bola

Ilegalidades é que não!

"Rui Moreira nunca festejou um título comprado no supermercado. Rui Moreira não torce por clubes que são punidos com subtracção de pontos por tentativa de corrupção. Nunca festejou um resultado positivo que tenha sido alcançado através de um penalty inexistente, de um golo em fora de jogo, de um tento mal anulado ao adversário, com a ajuda de um árbitro que tenha sido agraciado com uma viagem ao Brasil, com fruta de dormir, com envelopes com quinhentinhos, ou com aconselhamento matrimonial a um familiar. Nunca votou em receptores de marfim, nem em corruptos, nem em proxenetas. Jamais o viram misturado com pessoas que assaltam estações de serviço, pilham free shops de aeroportos ou atentam contra a integridade física de cidadãos de Estados de direito. Para este homem, a lei é o mais importante, ele não pactua com nada que a belisque. A sua noção de respeito pela legalidade é tão vincada, que julgo que Rui Moreira é menino para processar, por violação de propriedade privada, o bombeiro que lhe entra pela casa adentro para apagar um fogo. Por isso, ontem, no programa Trio de Ataque, quando APV lhe explicou que cores estava ele ali a defender, Rui Moreira encheu-se de vergonha e bateu em retirada. Foi muito digno. Que pessoa de bem poderia dar a cara por aquele pot-pourri de ilegalidades? O YouTube faz mais pela justiça em Portugal que quinhentinhos juízes mortáguas, essa é que é essa"