sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Fúria da Razão

"A actualidade benfiquista tem provocado uma atmosfera emocional em alta. Candidato à revalidação do título nacional, objectivo proclamado sem sofismas, o Benfica vive um início de época atribulado por razões que lhe são laterais. Três desempenhos de outras tantas equipas de juízes(?) conseguiram garantir ao Clube um recorde negativo em cerca de oitenta edições da prova maior do association lusitano. Tratou-se do pior arranque de sempre, ademais numa altura em que a equipa possui um dos melhores quadros de jogadores, no mínimo do seu recente historial.
Paradoxalmente, a temporada 2010/2011 assinala a passagem de 50 anos sobre duas datas de expressão lendária. No próximo dia 17 de Dezembro, faz meio século que Eusébio aterrou em Lisboa no começo de um sonho que dilatou a alma do povo vermelho. Em Maio próximo, é altura de assinalar o 50º aniversário do triunfo da Taça dos Clubes Campeões Europeus, oportunidades para rever, com veneração incontida, a mais belas das pinturas do século benfiquista, aquela imagem imortal de José Águas a erguer o troféu ao céu da felicidade rubra.
Com dimensão nacional nos seus próprios países, com mais de 10 milhões de adeptos espalhados pelos cinco continentes, com um histórico recheado de triunfos, há apenas sete clubes míticos no mundo. A saber: BENFICA, Real Madrid, Juventus, Bayern de Munique, Manchester United, Flamengo e Boca Juniors.
Existiu uma ideia, existiu um sonho. Existe uma história, existe uma mística. Não se espezinha um clube, com verdade centenária, não se espezinha um clube com dimensão planetária. As sentinelas vermelhas estão alerta. Com a furiosa razão da Justiça."
João Malheiro, in O Benfica

A Dinastia Arbitral

"O principio monárquico continua vivo no nosso futebol. Não tenha-mos dúvida que o polvo está de volta, agora com os tentáculos mais fortes e métodos mais subtis, após o 'susto' do 'Apito Dourado', que se transformou em mais um pagode, que coloca Portugal na latrina em matéria de justiça e decência. Voltando à monarquia. Benquerença. Como chegar a internacional ultrapassando outros, mais competentes e imparciais, tudo o que se pede a um árbitro, a um juiz. O pai de Benquerença é o presidente do Conselho de Arbitragem da AF Leiria. E quem é de Leiria? O ex-árbitro, vá vamos lá pensar, está quente, quente, vá, vá... o ex-árbitro António Garrido. Esse mesmo, que trabalhou há anos para quem? Para o FCP YouTube (sabor a fruta), e que está também nas escutas a levar um 'arranque' do Major da semelha, que emigrou das Beiras para o Porto. Falando em Beiras, chegamos a outro artista. Carlos Xistra. Que nomes. Mesmo assim tanto faz, podia ser Olegário Xistra ou Carlos Benquerença o resultado seria o mesmo. Têm tantas coisas em comum. Também o beirão é descendente de um ex-dirigente (já falecido) da AF Castelo Branco, Carlos Ramito Xistra. Ora cá está o princípio monárquico da arbitragem no futebol português. Soares Dias também é filho de um ex-árbitro, Paraty também era. Extraordinário!
Quanto ao polvo, volta a ocupar ainda a cadeira papal, à espera da altura para gritar 'Habemos Papa', o novo Salvador do 'sistema' está só a vestir-se.
Como qualquer contraventor, sabemos, que após ser ilibado, reforça a sua veia criminosa. É o que vai acontecer. E se nova investigação voltar a acontecer, após as certas desconfianças de atitudes que aí vêm para inquinar a lisura desportiva, o argumento será:
-Outra vez? Já no 'Apito Dourado' diziam que éramos corruptos, mas 'provou-se que não'. Agora voltam à carga? Isto é o centralismo de Lisboa.
Faço um apelo à união e vigilância. Cosme Machado, Proença, Duarte Gomes, Vasco Santos, J.Ferreira, B.Paixão, Elmano Santos, Gralha, Paulo Baptista e Jorge Sousa não sabemos de quem são filhos, mas há um principio monárquico na arbitragem, ao qual não podem fugir.
O trabalho das 5 primeiras jornadas está à vista e é por isso que nenhum árbitro é orfão, disso tenho a certeza!"
António Melo, in O Benfica

Fernando Riera


"O chileno Fernando Riera, antigo treinador do Sport Lisboa e Benfica, faleceu na quinta-feira aos 90 anos. O ex-técnico morreu de enfarte.

Fernando Riera estreou-se como treinador do Benfica no dia 21 de Agosto de 1962, tendo sido três vezes campeão nacional (1963, 1967 e 1968). O chileno conduziu ainda a equipa da Luz à final da Taça dos Campeões Europeus na época de 1962/1963. Os “encarnados” perderam a prova para o AC Milan.

Riera treinou ainda vários clubes em Portugal, além de ter sido seleccionador do seu país.

Neste momento de profunda tristeza, o Sport Lisboa e Benfica endereça as mais sentidas condolências à família e amigos de Fernando Riera."


Futebol português, um jogo viciado

"Num artigo publicado neste jornal, no dia 17, Bruno Prata (BP) entendeu que o comunicado dos órgãos sociais do Benfica misturava "alhos com bugalhos". BP é um dos poucos jornalistas desportivos portugueses que aliam a isenção à competência e a lucidez à independência, o que torna a sua opinião sobre este tema mais relevante e, por isso, mais digna de ser rebatida.

Sou um benfiquista confesso, mas sou, acima de tudo, pela "verdade desportiva", frase que, de tão gasta, parece ter-se tornado descartável. Nunca me sentiria confortável se o meu clube ganhasse sem mérito, recorrendo à batota, à corrupção ou ao abuso do poder. Nunca aceitaria que a direcção do meu clube tomasse a iniciativa, participasse ou fosse conivente com práticas antidesportivas ou jogos de bastidores, corrompesse árbitros ou dirigentes, jogadores ou agentes desportivos. No tempo de Vale e Azevedo estive do lado dos que denunciaram as suas intenções e os seus métodos. E, relativamente ao consulado de Luís Filipe Vieira, tive ocasião de criticar algumas das suas escolhas no plano desportivo e de discordar de algumas decisões e atitudes. Mas sempre o apoiei na sua luta pelo apuramento da verdade no caso Apito Dourado.

Dito isto, entendo que posso dar algum contributo para rebater a ideia de que o comunicado "mistura alhos com bugalhos" e "dispara em todas as direcções". Pelo contrário, acho que, para quem queira ler nas entrelinhas, tem um alvo muito preciso e é de uma grande coerência. Mesmo na proposta, discutível e quiçá utópica, de pedir aos adeptos que não assistam aos jogos do Benfica no campo dos adversários.

Quais são as entidades visadas no comunicado? O secretário de Estado do Desporto, a Olivedesportos, a Liga (ao ameaçar boicotar a Taça) e a sua Comissão de Arbitragem, os outros clubes e o ministro da Administração Interna (MAI). O que liga tudo isto? Uma ideia muito simples: a de que o futebol, para além de ser um desporto e uma paixão, é uma indústria e um negócio. O que exige regras claras e práticas transparentes e o primado da lei e da justiça. Ora, aquilo a que o país inteiro assistiu nestes últimos vinte e alguns anos foi à montagem e consolidação de um sistema de viciação dos resultados, que transpareceu nas escutas e nas investigações posteriores, e que levaram, por exemplo, aos castigos aplicados no processo do Apito Final. Mas que deixaram impunes todos os envolvidos nos processo-crime levantados pelo Ministério Público, o que manchou a credibilidade dos juízes e dos tribunais e deixou campo livre aos prevaricadores para voltarem a agir nos bastidores. É o que se percebe que está a acontecer neste campeonato, em que o FC Porto conta, na actual Liga, com uma maioria de elementos afectos ao clube e em que se tem assistido a uma escandalosa viciação dos resultados em seu favor e em claro prejuízo do Benfica. A verdade é que no pequeno mundo do futebol nacional reina a ideia da retomada em mão dos destinos do campeonato pelo clube dirigido por Pinto da Costa.

O que o comunicado do Benfica diz, ao atacar Laurentino Dias por se ter mantido em silêncio durante a farsa jurídica do Apito Dourado (quando não hesitou em tomar partido sempre que estava em causa outra forma de viciação dos resultados como é o doping, cuja autonomia deveria, nesse caso, igualmente ter respeitado), é que, tendo falhado qualquer esperança de que a Justiça venha, em prazo útil, a pôr ordem e verdade no futebol, o Benfica, como maior clube português e aquele que mais adeptos mobiliza, só tem um modo de fazer ouvir a sua voz e repor a verdade nas competições: atacar onde dói. E onde dói é nos cofres dos clubes e das instituições que vivem do negócio do futebol: Liga e Olivedesportos. O que o comunicado diz é que não contem com o Benfica para pactuar com a batota, e que os clubes e as instituições têm que assumir as suas responsabilidades, deixar de ter medo e colaborar na limpeza do futebol profissional.

Por fim, pede-se a intervenção do MAI. A razão é simples: o Benfica não está disposto a ser impunemente agredido, no campo, fora dele e nas suas casas regionais, como forma de intimidação, sem que isso tenha consequências nem se tomem medidas que previnam a sua repetição. Portugal não é um país violento, e a briosa e pacata cidade do Porto não é Palermo. O que se espera, então, para prevenir futuros desacatos e castigar exemplarmente os agressores e identificar os seus mandantes?"

António Pedro Vasconcelos, in Jornal Público.